Folha de S. Paulo


Análise: Brasil não apresenta grande time há 3 Copas

A diferença do Brasil que vencia para o que dá vexame pode ser o aspecto coletivo; A cada dia mais, o futebol é decidido por craques quando jogam em equipes bem estruturadas

O técnico campeão mundial de 1978 pela Argentina, Cesar Luis Menotti, já afirmou que o futebol evolui em toda a América do Sul, exceto em um país: o Brasil. "É o único que regride", diz Menotti.

O risco de eliminação contra a Venezuela ou de se classificar em terceiro lugar no grupo da Copa América pode ser a confirmação.

Desde os 7 a 1 contra a Alemanha, há controvérsia sobre o lugar ocupado pelo Brasil no cenário internacional. A seleção é a quinta colocada no ranking da Fifa (foi 19ª antes da Copa do Mundo), mas seu jogo não seduz.

"O Brasil segue sendo potência. Qualquer lista de favoritos em qualquer torneio começa pela seleção brasileira e a partir das quartas de final vai voltar a brigar pelo título", aposta o embaixador da Copa América, o ex-zagueiro chileno Elias Figueroa.

Não é tão simples ter esta certeza. O Brasil joga a Copa América desfalcado de Oscar, Luiz Gustavo, Danilo e Diego Alves. Danilo acaba de ser negociado do Porto com o Real Madrid por 31 milhões de euros. Oscar é importante no Chelsea. Disputou 28 das 38 partidas do título inglês.

Mas há menos jogadores em clubes grandes da Europa do que na geração de Ronaldo, Ronaldinho, Cafu e Roberto Carlos.

"Se o futebol fosse um esporte individual, o Brasil teria vencido a Copa com facilidade em 2014", diz Arrigo Sacchi, técnico bicampeão europeu pelo Milan. Para ele, o problema não é a falta de talento, mas de organização.

Na final Copa de 1994, Sacchi era o técnico da Itália, derrotada nos pênaltis pelo Brasil. Naquela época, Romário jogava no Barcelona e Bebeto e Mauro Silva no La Coruña (vice-campeão espanhol), mas a maior parte dos titulares não estava nos clubes favoritos a conquistar a Liga dos Campeões.

Dunga era volante do Stuttgart, da Alemanha.

A diferença do Brasil que vencia para a seleção que dá vexame pode ser o aspecto coletivo. A cada dia mais, o futebol é decidido por craques quando jogam em equipes muito bem estruturadas.

A Argentina pergunta por que Messi brilha no Barcelona e não atua no mesmo nível na seleção. A Argentina é vice-campeã mundial, mas não vence um torneio há 22 anos e teve cinco técnicos diferentes desde 2009.

Menotti disse em Buenos Aires nesta semana que só a Alemanha mantém a mesma filosofia de jogo quando muda de técnico. Nos últimos dez anos, houve só uma troca, com o ex-assistente Joachim Löw assumindo o lugar de Jürgen Klinsmann.

No mesmo período, o Brasil teve Parreira, Dunga, Mano Menezes, Felipão e novamente Dunga. "Tivemos muitos problemas individuais e jogamos mal coletivamente", disse Dunga, depois da derrota para a Colômbia.

Em julho de 2014, o Brasil venceu a Colômbia pelas quartas da Copa do Mundo. Havia oito colombianos titulares naquele jogo repetidos quarta, pela Copa América. Só três brasileiros foram titulares nas duas vezes: Thiago Silva, Fernandinho e Neymar.

Muita gente discorda de Sacchi e julga que no Brasil falta mesmo qualidade individual e o país não forma mais talentos como no passado. A troca constante de jogadores indica que, no mínimo, falta repetição para fortalecer o aspecto coletivo.

Por décadas, o Brasil apostou em um tipo de futebol que não existe mais. O drible e a criatividade resolviam. Não é mais assim. Há três Copas do Mundo, a campeã é a seleção mais bem montada e é difícil apontar o craque do torneio.

Em 2006, a Itália foi campeã e teve como destaque o zagueiro Cannavaro. O Brasil acreditou que podia vencer com os talentos de Ronaldo, Adriano, Ronaldinho e Kaká. Os jogadores eram geniais, a equipe desestruturada.

A Alemanha de 2014 tinha atletas acima da média, mas não dependia de nenhum.

O Brasil depende. Sem uma equipe montada e sem a certeza sobre qual é seu lugar exato no cenário internacional, a seleção jogará sem Neymar contra a Venezuela. Desde a estreia de Neymar na seleção em 2010, o Brasil jogou 65 vezes com seu craque e só perdeu oito –em média, uma derrota a cada 9 jogos.

Sem Neymar, foram nove partidas e três derrotas, uma a cada três jogos.

O Brasil ainda produz craque, ao menos assim, no singular. O problema é que há três Copas não apresenta um grande time.


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