Folha de S. Paulo


Ameaça de bomba na Copa mobilizou inteligência e deixou Dilma apreensiva

Há um ano, na abertura da Copa do Mundo, em 12 de junho de 2014, a presidente Dilma Rousseff recebeu uma enorme vaia de parte do público no Itaquerão. O mais bem guardado segredo do primeiro dia do torneio, porém, revela que Dilma teve outro motivo bem mais grave para se preocupar durante o jogo.

A Folha apurou que horas antes da partida, enquanto almoçava com 12 chefes de Estado em um hotel em São Paulo, Dilma foi alertada pelo primeiro-ministro da Croácia, Zoran Milanovic, de que o serviço secreto croata recebera a informação de que poderia ocorrer um atentado terrorista durante a partida Brasil x Croácia, naquela tarde.

Segundo a informação dos croatas, o atentado, de motivos ignorados, seria praticado por seis libaneses. Na conversa, o representante croata queria saber se Dilma poderia dar condições de total segurança para a partida.

Dilma acionou o responsável pela sua segurança, o general do Exército Marco Antônio Amaro dos Santos, que pediu informações ao chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Wilson Trezza, que estava com representantes do Ministério da Justiça e da cúpula da segurança pública paulista na sede do centro de controle e inteligência montado em São Paulo.

Como se tratava de potencial ameaça estrangeira, o assunto coube à Abin. Seguiu-se uma troca de telefonemas entre diretores e subordinados da agência e de consultas a serviços de inteligência aliados que estavam trabalhando em conjunto com a Abin por ocasião da Copa.

A primeira conclusão foi que a informação não era nova, já havia chegado ao serviço de inteligência brasileiro semanas antes e descartada como um mero boato. A origem havia sido um telefonema anônimo para o serviço de disque-denúncia.

De qualquer forma, procedeu-se a uma nova checagem geral, incluindo verificação dos cidadãos provenientes do Líbano que haviam adquirido ingressos para o jogo.

A apuração levou a Abin a descartar um possível atentado, informação que foi passada por telefone ao general Amaro. As negativas permitiram a Dilma manter a partida e acalmar o primeiro-ministro croata.

Apesar do desmentido, os órgãos da cúpula da inteligência civil e militar acompanharam com apreensão o desenrolar da partida – o Brasil venceu a Croácia por 3 a 1.

Dias depois, o Brasil chegou à conclusão de que um serviço de inteligência estrangeiro havia recebido a mesma informação anônima e repassado à Croácia –caso tivesse acionado os brasileiros, saberia que a hipótese havia sido descartada.

A história só foi contada agora, um ano depois, pela própria Abin em duas oportunidades: durante a visita à sede da agência de parlamentares federais membros da CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional, no mês passado, e na solenidade de encerramento de um encontro entre representantes do órgão e do governo de São Paulo, com vistas à preparação do setor de inteligência para as Olimpíadas, quando deverá ser repetido o esquema de segurança da Copa. Em 2014, a Abin operou com 17 centros de inteligência de forma integrada.

A presidente da CCAI, deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG), disse que foi possível afastar a hipótese de risco no dia da abertura da Copa porque o Brasil estava articulado "com 80 serviços de inteligência" no mundo. "Chegou a informação de uma possível ameaça e a Abin conseguiu dar uma resposta ágil, com a segurança e tranquilidade para se fazer a abertura", disse a deputada.

O vice-presidente da CCAI, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), disse que "a notícia era um rebate falso, mas mostrou a capacidade do serviço de inteligência de agir rapidamente". Para o senador, o encontro na verdade foi marcado por outra revelação: "a apresentação dramática do quadro de penúria dos quadros da Abin". Segundo o senador, o déficit relatado foi "de mais de 300 cargos", e não se realiza concurso público para suprir as vagas desde, pelo menos, 2008.

Em sua página em rede social, a Abin informou, no último dia 8, que solicitou ao Ministério do Planejamento a abertura de concurso para 470 vagas de oficiais, oficiais técnicos, agentes e agentes técnicos de inteligência.

Procurada pela Folha, a Embaixada da Croácia no Brasil informou que não confirmava a história descrita pelo governo brasileiro, mas não informou sua própria versão do ocorrido.

Também procurado pela Folha, o Ministério da Justiça, responsável pela coordenação de segurança dos grandes eventos, informou que não comentaria o assunto.


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