Folha de S. Paulo


Como não morri, o infarto só me trouxe coisas boas, diz Casagrande

Walter Casagrande Júnior, aos 52 anos, precisa se reinventar mais uma vez.

Depois de ter sobrevivido a quatro overdoses por uso de cocaína e heroína, extirpado parte dos intestinos por causa de uma diverticulite, contraído hepatite C e saído quase ileso de grave acidente de carro em 2007, o ex-jogador do Corinthians e atualmente comentarista da TV Globo supera agora um infarto, ocorrido no dia 29 de maio.

Já está bem, mas enfrenta o desafio de alterar radicalmente seus hábitos. "Depois de 38 anos de abusos, acho que já havia passado da hora de mudar meu estilo de vida"

Submeteu-se a cateterismo e angioplastia (procedimentos para fazer o diagnóstico e desentupir artérias), com a colocação de dois stents (pequenos tubos que impedem o estreitamento da artéria).

Recebeu alta na quarta (dia 3) e está liberado para cobrir a Copa América, no Chile.

Casagrande busca novas fontes de satisfação para substituir antigos prazeres. "Agora vai ter mais cinema, teatro e boliche. Não vou renegar shows de rock, mas irei com menos frequência."

Durante o almoço, recebeu ligação de Luís Carlini, guitarrista do Tutti Frutti nos anos 70. Falou ao roqueiro: "O Casagrande não existe mais. Vou ao cartório trocar meu nome para madre Teresa de Calcutá".

INFARTO

"Comecei a sentir dores no braço, no peito, nas costas e no pescoço. Pensei que algum nervo estivesse pinçando, inflamado, e queria fazer shiatsu. Como o desconforto aumentava, o Leonardo [filho dele] me levou ao hospital. Foi fundamental porque a rapidez no socorro impede a necrose do coração."

MEDO DA MORTE

"Não senti medo de morrer. Pelos sintomas, dava para perceber que não havia esse risco. Já passei por situações piores, quando tive as overdoses. Fiquei tranquilo e consciente, acompanhando os procedimentos dos médicos pelo monitor de vídeo."

CARA LIMPA

"Estava sem beber álcool havia quatro meses. Já tinha cortado, até mesmo bombom com recheio de licor, creme de papaia com cassis... Mas fumava e comia de tudo, sem preocupação com gordura, sal, açúcar. Agora, além de não beber, já parei de fumar e entrei numa dieta rigorosa."

MORTE DA MÃE

"A morte dela mexeu muito comigo. Eu ficava me cobrando, pensava que poderia ter visto minha mãe mais vezes, dado mais carinho.

Entrei num movimento psicológico de me chicotear: eu dormia pouco, fumava muito e também exagerava na bebida. Me convenci, há quatro meses, que precisava buscar ajuda, pois aquele estilo de vida era um fator de risco para um dependente químico. Foi aí que procurei suporte terapêutico e parei de beber."

CONTA DO PASSADO

"Encaro o infarto como o último degrau das consequências do meu estilo de vida anterior. Tenho um coração sofrido, que batia forte quando eu cheirava, depois desacelerava bruscamente. O que me fez suportar tudo isso é o fato de ter sido atleta."

FUTURO

"Como não morri, o infarto só me trouxe coisas boas. Parei de fumar, só como coisas saudáveis, e estou prestes a namorar uma menina que conheci."

ESCÂNDALO DO FUTEBOL

"Espero que se vá fundo nas investigações. Acho que mais fatos virão à tona"

RAIO-X CASAGRANDE

Idade

52 anos

Ocupação

Comentarista da TV Globo

Carreira

Se formou jogador no Corinthians, teve passagens por São Paulo, Torino-ITA, Ascoli-ITA e Flamengo, além de ter vencido a Liga dos Campeões pelo Porto-POR na temporada 1986-1987. Disputou a Copa do Mundo de 1986, no México

GILVAN RIBEIRO é editor de esporte do "Agora" e coautor da biografia "Casagrande e seus Demônios"


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