Folha de S. Paulo


Del Nero será principal alvo de CPI que já foi pedida no Senado; CBF vê erro

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, será o principal alvo da CPI proposta no Senado para investigar a entidade. O pedido para a criação da comissão foi lido no plenário nesta quarta-feira (28), o que abre caminho para que ela seja instalada nos próximos dias.

Pelas regras do Senado, os parlamentares que apoiaram a criação da CPI têm até a meia-noite desta quinta para retirarem assinaturas do pedido. Pelo menos 27 têm que manter o apoio para que a comissão seja efetivamente instalada, o que só acontece depois da indicação de seus membros pelos líderes dos partidos. A instalação só ocorre na primeira reunião da CPI, quando são eleitos o presidente, o vice e o relator dos trabalhos.

A CPI foi motivada pela prisão de dirigentes da Fifa, entre eles o vice-presidente da CBF, José Maria Marin. Idealizador da comissão de inquérito, o senador Romário (PSB-RJ) afirma na justificativa do pedido que o Senado precisa apurar as denúncias de corrupção na entidade, reveladas após a prisão dos dirigentes.

A Folha apurou que Marco Polo Del Nero será o foco da investigação. O dirigente não teve seu nome citado nas investigações dos Estados Unidos, mas documentos das autoridades dos Estados Unidos indicam que ele dividiu parte das propinas recebidas por José Maria Marin, vice da CBF e presidente da entidade até abril de 2015.

O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, diz que os documentos precisam ser analisados com "bastante cuidado" e é "precoce" apontar envolvimento de Del Nero no esquema de pagamento de propinas..

"Só vejo um equívoco na CPI: a CBF é uma entidade privada. Deveria ser uma CPI sobre o futebol, senão pode caracterizar elementos de ilegalidade. Mas não vejo problema em uma CPI sobre o futebol é uma manifestação soberana do Senado", disse Feldman à Folha.

Editoria de Arte/Folhapress

Del Nero também é alvo por causa da compra de duas coberturas num condomínio de luxo da Barra. Segundo o senador Romário, a transação tem suspeitas de irregularidades. O ex-jogador conseguiu na quarta mais de 40 assinaturas de senadores para abrir uma CPI sobre a CBF.

A compra dos dois dúplex por Del Nero foi revelada pela Folha. Em maio do ano passado, ele pagou apenas R$ 1,6 milhões por uma cobertura de mais de 250 metros quadrados na Barra com direito a quatro vagas de garagem de frente para a praia. O valor era menos da metade do preço de mercado do imóvel.

Na ocasião, Del Nero é um de seus filhos compraram o dúplex da empresária Liliana Maia. Ex presidente da Escola de samba Estacio de Sá, ela teve seu sigilo fiscal e bancário quebrado pela Justiça do Rio na Operação Hurricane em 2007, que investigou uma quadrilha que explorava caça-níqueis no Estado.

No mesmo mês, José Maria Marin, ex-presidente da CBF, também comprou a cobertura ao lado da de Del Nero pela mesma quantia (abaixo do valor de mercado) da mesma proprietária. Marin está preso na Suíça desde quarta-feira, acusado de fazer parte de esquema de corrupção no futebol.

Nove meses depois, O atual chefe da CBF pagou R$ 5,2 milhões por uma outra cobertura no condomínio. O dúplex foi comprado de uma empresa dos filhos do empresário Wagner Abrahão, que é parceiro comercial da Confederação. A empresa fica no mesmo endereço da principal empresa de Abrahão.

No negócio, Del Nero e seu filho se comprometeram pagar R$ 4, 8 milhões e repassou o dúplex comprado de Lilian meses antes ao empresário por R$ 410 mil, além de um saldo devedor não informado.

A compra dos três imóveis de luxo por Del Nero e Marin é considerada "atípica" por advogados ouvidos pela Folha. Eles consideram que as operações podem ter sido feitas para burlar o fisco.

A parceria entre a CBF e Abrahão será outro ponto a ser investigado pela CPI.

Abrahão é dono do Grupo Águia, que faz todas as viagens da seleção e dos clubes da Séries B e C do Brasileiro. Há cerca de seis meses, ele ganhou o direito de explorar o moderno museu da CBF. O valor do negócio nao foi revelado pelas duas partes. No mês passado, ele recebeu de Marin a comenda João Havelange, a maior honraria do futebol brasileiro, segundo a CBF.

Abrahão realiza negócios com a CBF há duas décadas. Em 2001, a CPI do futebol investigou os negócios dele com a entidade. No relatório final, os senadores mostraram que a CBF repassou R$ 31, 1 milhões à SBTR, empresa de Abrahão, em três anos, de 1998 a 2000. Segundo os senadores, não havia notas fiscais referentes às passagens compradas com a agência. Apesar das denúncias, a confederação continuou fazendo negócios com a empresa de Abrahão Sérgio.

Como há 26 senadores a mais que o mínimo necessário assinando o pedido, a expectativa no Senado é que não haja recuo na criação da CPI. Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que já vai pedir nesta sexta-feira (29) aos líderes dos partidos que indiquem os membros da comissão de inquérito.

"Temos até meia-noite para retirarem ou colocarem assinaturas, mas não parece o caso porque a CPI tem mais de 50 assinaturas. Vamos pedir as indicações para que possamos começar imediatamente a investigação", afirmou Renan.

Além da CPI no Senado, deputados federais reuniram cerca de 200 assinaturas e também deram entrada, na noite desta quinta-feira (28), a um pedido de CPI para apurar as denúncias envolvendo a Fifa e a CBF. O foco da CPI será a CBF e deverá funcionar paralelamente à do Senado. O pedido, porém, entra em uma fila de criação de outras CPIs e, por isso, a comissão ainda deve demorar para ser instalada.


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