Folha de S. Paulo


Marin, ex-presidente da CBF, é detido na Suíça acusado de corrupção

O ex-presidente da CBF José Maria Marin, 83, e outros seis dirigentes da Fifa foram detidos nesta quarta-feira (27) pela polícia suíça em uma operação surpresa, realizada a pedido das autoridades dos Estados Unidos. Os cartolas são investigados pela Justiça americana em um suposto esquema de corrupção.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, foram detidos, além de Marin, Jeffrey Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel (veja abaixo o perfil dos dirigentes). Eles participariam do congresso da Fifa e da eleição da entidade, que ocorre nesta sexta (29).

As autoridades suíças relataram que os detidos devem ser extraditados para os Estados Unidos, onde a Procuradoria de Nova York faz a investigação.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a maior parte do esquema envolvia subornos e propinas entre dirigentes da Fifa e executivos do setor na comercialização de jogos e direitos de marketing de campeonatos como eliminatórias da Copa do Mundo na América do Norte, a Concacaf, a Copa América, a Libertadores e a Copa do Brasil –esta última, organizada pela CBF.

Editoria de Arte/Folhapress

Os alvos da operação são principalmente dirigentes da Concacaf, como Webb, presidente da entidade que engloba os países das Américas do Norte e Central e do Caribe. Foram feitas busca e apreensão em um escritório da Concacaf em Miami.

As autoridades também investigam o pagamento de propina envolvendo o patrocínio da CBF por uma grande empresa dos EUA, a escolha da África do Sul como anfitrião da Copa de 2010 e as eleições presidenciais da Fifa em 2011.

Agentes chegaram no início da manhã (horário local) ao luxuoso hotel cinco estrelas Baur au Lac, em Zurique, onde os dirigentes estão reunidos para um congresso anual da entidade máxima do futebol. A entrada do prédio foi bloqueada e dezenas de jornalistas se aglomeravam no local.

O ex-presidente da CBF José Maria Marin, que atualmente é vice-presidente da entidade, foi escoltado por autoridades suíças na saída do hotel. Não há a confirmação para onde os detidos foram encaminhados.

Braço direito de Marin, o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, está hospedado no mesmo hotel em Zurique. Seu nome não aparece entre os acusados. O dirigente participa de uma conferência da Conmebol, nesta quarta, em um hotel de Zurique.

ESQUEMA DE MAIS DE US$ 100 MILHÕES

As acusações, segundo a polícia suíça, estão relacionadas a um vasto esquema de corrupção de mais de US$ 100 milhões dentro da Fifa nos últimos 20 anos, envolvendo fraude, extorsão e lavagem de dinheiro em negócios ligados a campeonatos na América Latina e acordos de marketing e transmissão televisiva.

Em nota, autoridades suíças divulgaram que contas dos acusados foram bloqueadas no país. Elas eram usadas para recebimento de subornos.

Além dos detidos nesta quarta, outros sete dirigentes e empresários foram acusados de corrupção no caso por lavagem de dinheiro e fraude. "Era um esquema que atuava há 24 anos para enriquecer dirigentes através da corrupção no futebol internacional", informa nota da Justiça americana.

Segundo autoridades dos Estados Unidos, quatro acusados detidos confessaram culpa no caso nesta quarta.

Além da investigação nos EUA, as autoridades suíças recolheram nesta quarta (27) documentos na sede da Fifa, em Zurique, em uma apuração relacionada à escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022.

"A Fifa vai cooperar plenamente com a investigação e apoiará a busca por provas. Como observado pelas autoridades suíças, a coleta de provas está sendo realizada numa base de cooperação. Estamos satisfeitos em ver que a investigação está sendo energicamente perseguida para o bem do futebol e acredito que vai ajudar a reforçar as medidas que a Fifa já toma", informou a entidade em nota divulgada para a imprensa.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, 14 pessoas serão acusadas formalmente por envolvimento no caso. Além dos detidos, estão também os dirigentes Jack Warner e Nicolás Leoz, os executivos de marketing esportivo Alejandro Burzaco, Aaron Davidson, Hugo Jinkis, Mariano Jinkis, além de José Margulies, um suposto intermediário que facilitava pagamentos ilegais.

Réu confesso, José Hawilla, 71, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina, que tem os direitos de transmissão, patrocínio e promoção de campeonatos de futebol e jogadores, além de empresas de comunicação no Brasil, também é citado pela Justiça americana.

Segundo a nota do governo dos Estados Unidos, o executivo teria concordado com o confisco de US$ 151 milhões (R$ 473 milhões na cotação atual) de seu patrimônio –US$ 25 milhões (R$ 78 milhões) deste total já teriam sido pagos no momento da confissão.

ELEIÇÃO ESTÁ CONFIRMADA

O diretor de Comunicação da Fifa, Walter de Gregório, disse em entrevista coletiva que a entidade é parte "prejudicada" pelo episódio, e que está colaborando com as autoridades.

Segundo ele, apesar do momento difícil, a operação é uma "coisa boa" para a entidade.

De acordo com o assessor, as autoridades suíças relataram que escolheram esta quarta para as prisões por causa da facilidade em encontrar todos os dirigentes acusados no mesmo lugar. A Fifa confirmou a realização da eleição para a próxima sexta (29).

No cargo desde 1998, Blatter deve ser reeleito com tranquilidade –seu único adversário é o príncipe da Jordânia, Ali bin Al-Hussein. Em comunicado nesta quarta comentando a operação da polícia suíça, Ali disse que "hoje é um dia triste para o futebol".

O ex-jogador português Luís Figo era candidato até semana passada, quando saiu da disputa disparando contra o comando da entidade. Junto dele também desistiu da candidatura o dirigente holandês Michael van Praag. Ambos apoiam agora o príncipe da Jordânia.

Em um comunicado, Figo criticou a eleição de sexta e classificou de "ditadura" o atual modelo de comando da Fifa.

Ao todo, 209 federações votam no pleito. Até agora, do ponto de vista relevante, o príncipe da Jordânia recebeu apenas o apoio dos cartolas europeus, sobretudo do presidente da Uefa, Michel Platini, mas insuficiente para derrotar Blatter.

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