Folha de S. Paulo


Inacabado, palco da seleção olímpica tem escada de 65 degraus no vestiário

Uma cobertura que protege setores em que não existe arquibancada, um vestiário que para acessá-lo, em vez de descer escadas os jogadores precisam subir, e bancos de reserva que impedem a visão dos primeiros assentos de arquibancada.

O palco do jogo de sexta-feira da seleção brasileira olímpica (sub-23), contra o Paraguai, será no estádio Kleber Andrade, em Cariacica, região metropolitana de Vitória-ES, que há anos convive com uma reforma que não tem fim.

Inaugurado em 1983, como casa do Rio Branco, tradicional clube local, ele foi vendido em 2008 para o governo do estado do Espírito Santo, e quase todo derrubado em 2010 para reforma.

Na época se esperava receber uma grande seleção para a Copa do Mundo de 2014, o que se confirmou. Camarões teve como base o Kleber Andrade na sua curta participação no Mundial, eliminado na primeira fase no grupo A, do Brasil, mas não pôde realizar partidas amistosas no local, apenas treinar. A reforma não havia acabado.

O Kleber Andrade parece imponente quando se vê ao longe, se aproximando do estádio. A cobertura não deixa a desejar a grandes arenas, e talvez explique o custo de R$ 180 milhões da reconstrução, 100% financiado com dinheiro público, mas na realidade tem pouco a cobrir.

Os lances de arquibancadas, com capacidade para pouco mais de 21 mil espectadores, ficam na parte central. Atrás dos gols, há de um lado um prédio inacabado que será um centro de ensino relacionado ao esporte, e do outro uma construção de concreto que um dia será um palco onde serão realizados shows.

Em 10 de novembro passado, o ex-Beatle Paul McCartney levou mais de 30 mil pessoas ao estádio, no maior evento em anos no Estado.

Futebol mesmo teve pouco. Após a Copa, o Rio Branco mandou duas partidas no estádio, que logo foi fechado novamente para a reforma continuar.

Sem banco de reservas, estes foram colocados para o jogo do Brasil na parte central do campo, mas na frente de dezenas de assentos, que não poderão ser vendidos porque cria um ponto cego. Quem sentasse ali não veria parte do gramado.

E pense em correr 45 minutos e depois precisar subir 65 degraus para descansar? No Kleber Andrade, o vestiário fica atrás da arquibancada, mas é preciso subir escadas, e não descer, para acessá-lo. Será construída uma escada rolante para facilitar o acesso dos atletas, mas por enquanto é apenas um projeto.

Jornalistas locais contam que houve um jogo do Rio Branco em que um jogador, machucado, precisou ser carregado pelos 65 degraus para chegar ao vestiário.

No final de 2014, o governador que deixava o cargo, Renato Casagrande (PSB), fez questão de reinaugurar o estádio, mesmo sem a obra estar completa.

Na época, ele disse que faltava a conclusão da pista e local de aquecimento do atletismo, do vídeo monitoramento, dos placares eletrônicos, de um sanitário público e do centro educacional. A pista de atletismo e os sanitários ainda não estão prontos. Também não há placar eletrônico, e a ultima previsão de entrega do estádio é para abril de 2015. O gramado apresenta algumas falhas, mas no geral está bom.

Editoria de Arte/Folhapress

NOVA LICITAÇÃO

O governo do Espírito Santo informou que o estádio será entregue inacabado pelo consórcio que toca a obra, o Andrade Valadares-Topus, e que uma nova licitação será feita para que outra empresa conclua a obra.

O valor aproximado que será gasto com a conclusão da reforma será de mais R$ 50 milhões, o que dará um custo total de cerca de de R$ 230 milhões. Em 2010, quando foi fechado para a obra, o valor estimado total era de R$ 70 milhões.

"Ele está inacabado, mas tem condições de receber eventos, como o jogo da seleção olímpica", disse Lucia Vilarinho, diretora de edificações da Iopes (Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo).

Não há previsão, porém, para que o estádio receba jogos do Campeonato Capixaba. Desde 2010 só foram realizadas três partidas de futebol no local.

A CBF quer agora que a seleção olímpica jogue em sua preparação para os Jogos do Rio-2016 em estádios que não receberam jogos da Copa, que têm possibilidade de receberem públicos maiores.

No Espírito Santos dará certo e a previsão é que 16 mil pessoas vejam a partida, carga máxima liberada pelo Corpo de Bombeiros - a organização ainda tenta liberar mais dois mil bilhetes.

No domingo (29), o palco de Brasil x México sub-23 será o Castelão, em São Luís-MA.


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