Folha de S. Paulo


Joaquim Cruz se diz cético em relação ao atletismo brasileiro na Rio-2016

Fabiana Murer, do salto com vara, é a principal esperança brasileira de conquistar uma medalha nos jogos do Rio-2016, na avaliação do campeão e recordista olímpico Joaquim Cruz.

Mesmo assim, há uma condicional, diz o quinto melhor corredor de 800 m da história: "Se ela conseguir se manter saudável até os Jogos Olímpicos, pode corrigir o erro que cometeu em Londres, porque tem base para isso". Nos Jogos de 2012, Murer teve problemas com o vento e não foi à final.

Quanto a outros atletas, Cruz é cético. "Vai ser muito difícil. Pista é difícil. Vai depender muito dos resultados deste ano. Não se vê ninguém...".

Segundo ele, o termômetro será o Mundial de atletismo, no próximo semestre, em Pequim. "Te digo agora: brasileiro que não chegar às finais, dificilmente vai chegar às finais no ano que vem; brasileiro que chegar em sétimo, oitavo, dificilmente vai ao pódio no Rio".

Cruz, que ainda hoje detém o recorde sul-americano de 800 m com o 1min41s77 cravado na Alemanha em 1984, lembra outros nomes que talvez possam ter bom desempenho no Rio, como Ronald Julião e Fernanda Borges, do lançamento de disco.

Em entrevista em São Paulo, pouco antes do lançamento de "Matador de Dragões", sua biografia escrita pelo jornalista Rafael De Marco, o ex-corredor citou também o decatleta Carlos Chinin, mas sem muito entusiasmo: "Ele competiu bem no ano retrasado, mas no ano passado não apareceu...".

Além da preparação física e técnica, Joaquim Cruz, 52, que vive nos EUA e trabalha para o Comitê Paraolímpico norte-americano, alerta que é fundamental o equilíbrio psicológico.

"Nossos atletas aqui vão ter de se preparar. Eles vão ter muita dificuldade, muita pressão. Espero que não ajam como agiram os jogadores de futebol na Copa: na hora do Hino nacional, todo mundo chorando, deixando escapar aquela emoção, aquele fogo que você tem de manter dentro e usar no momento certo. Você tem de manter suas emoções totalmente sob controle. Vai vencer aquele que mantiver o controle emocional."

Para ele, é preciso também acabar com a mentalidade de que simplesmente chegar a uma Olimpíada já é uma vitória. "Precisamos criar uma cultura de vencedores. No Brasil, ninguém fala em pódio, em preparar o atleta para subir ao pódio, porque não faz parte da cultura. Ganhar a Olimpíada não é fácil, mas, se a gente não se preparar para ela, treinando com convicção, não vai acontecer".


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