Folha de S. Paulo


Competições esportivas ficam mais curtas para atrair público jovem

Em uma tarde de verão em Sydney, em janeiro, dois ex-campeões do Grand Slam, John McEnroe e Patrick Rafter, jogaram uma versão abreviada de tênis. Rafter ganhou a partida de exibição pelo estranho e truncado placar de 4-3, 4-1.

"É o que a turma quer, o que a TV quer", disse Rafter sobre o novo formato, chamado Fast4. "Eu acho que os Grand Slams sempre serão como são, mas, para os outros eventos, se é assim que os torcedores querem, é como vamos jogar."

O tênis -seja profissional ou recreativo- ainda não deve abandonar seu tradicional sistema de pontuação. Mas o pensamento dirigido ao mercado e aos jovens que estava por trás da experiência em janeiro faz parte de uma tendência global.

Em um mundo onde os períodos de atenção encolhem e onde TV, telefone e outras opções de tela proliferam, os esportes cada vez mais se concentram em tornar seus formatos mais compactos e aproveitar ao máximo cada segundo.

A Fifa e muitas ligas de futebol adotaram spray de tinta volátil para ajudar a eliminar parte das intermináveis discussões antes dos chutes livres. O beisebol da primeira divisão tenta acelerar o ritmo do jogo, experimentando, entre outras coisas, manter os batedores em rodízio na caixa do batedor. A Associação Nacional de Basquete dos EUA experimentou tempos de 11 minutos e uma partida de 44 minutos em vez de seus tempos habituais de 12 minutos, somando 48. O golfe continua lutando contra o jogo lento: as autoridades e a tecnologia seguem o avanço dos jogadores, e um competidor japonês foi penalizado no Aberto do Reino Unido em 2013 por demorar a fazer uma de suas tacadas.

"Quanto mais tempo a bola estiver em jogo, maior o valor de entretenimento para os torcedores", disse Jeff Agoos, vice-presidente de competição na Primeira Divisão do Futebol nos Estados Unidos. "Por isso analisamos não apenas quanto tempo a bola fica em jogo, mas como podemos melhorar e aumentar a quantidade de tempo que a bola passa em jogo."

Os próximos objetivos da liga? A estrita aplicação do limite de seis segundos que um goleiro pode manipular a bola, e reduzir o tempo de "cera" antes das cobranças de pênaltis e escanteios.

"Eu acho que todos os esportes precisam constantemente examinar seu formato, especialmente o seu ritmo", disse John Kristick, executivo-chefe global da consultoria esportiva GroupM ESP. "Na realidade, existem muitos esportes com tradição e história que limitam o que realmente podem fazer. E não vejo o futebol chegando a uma situação em que de repente os jogos não durem mais 90 minutos, mas claramente o ritmo é algo mais fácil de abordar."

O críquete marcou um exemplo, com a adoção bem-sucedida do formato Twenty20 em 2003. Ele permite que as partidas sejam concluídas em cerca de três horas, em vez de vários dias.

"Eles encontraram uma maneira", disse Kristick. "Para mim essa é uma mudança de ritmo, e certamente vai agradar a um público mais amplo... e mais jovem."

Mas atingir a juventude não tem a ver apenas com agilizar o produto. Trata-se de dividir as partidas em bocados que possam ser facilmente partilhados nas redes sociais.

"A juventude consome esportes e conteúdo de maneira diferente" disse Kristick. "Para atender às necessidades desse público, é preciso examinar as diferentes plataformas, a experiência da segunda tela, e ver o conteúdo em pedaços menores, que afinal vão levar as pessoas de volta ao produto principal."

Em 1998, o voleibol modificou seu sistema de pontuação para permitir que os times marcassem pontos depois de cada jogada, em vez de apenas quando sacavam a bola. A mudança foi uma tentativa de encurtar a duração das partidas -tornando-as mais previsíveis para a televisão.

Mas Fernando Lima, o primeiro secretário-geral da Federação Internacional de Vôlei, disse que mais mudanças são essenciais. Um foco maior para longos ralis é uma estratégia, disse ele.

"Os ralis são, na verdade, os grandes momentos no vôlei. Com eles, promovemos o esporte na mídia social", disse.

Segundo Lima, a federação de vôlei está avaliando o ritmo dos jogos, especialmente o tempo entre os saques. Ele disse que esse intervalo costumava ser, em média, de 10 segundos nas partidas masculinas. No entanto, havia aumentado para 25 segundos por causa da crescente tendência dos jogadores de se abraçar para comemorar ou lamentar entre os pontos. "Calculamos que, só com os abraços dos jogadores, aumentamos cada partida em cerca de meia hora", disse ele.

"Meia hora sem nada acontecendo. Nosso problema é que, a menos que os torcedores gostem de ver os jogadores se abraçando, isso não ajuda o jogo."
Lima disse que o objetivo é cortar o tempo médio entre saques para 15 segundos e assim reduzir a duração média de uma partida de cerca de duas horas para uma hora e 45 minutos: uma janela ideal, na opinião dele, para transmissões de televisão.

"A duração do jogo não permite que uma emissora faça uma introdução e um encerramento adequados para a partida em uma janela na programação de duas horas", disse Lima. "Hoje muitas coisas duram duas horas, como a maioria dos filmes. Mas acho que isso desafia a paciência das pessoas. Com toda a nova mídia e todo o conteúdo que existe hoje, é muito difícil manter a atenção das pessoas."

Duas horas certamente funcionam bem para o jogo mais popular do mundo, o futebol. Também para a Fórmula 1, a corrida de automóveis que tem mais fãs no mundo.

Mas o paradoxo, de uma perspectiva norte-americana, é que o rei indiscutível dos esportes televisivos continua sendo o futebol americano, cujas partidas habitualmente ultrapassam três horas e apresentam pouco jogo durante essa janela. O que o futebol americano oferece, junto ao peso cultural, são muitos momentos rápidos de ação e tempo de sobra para replays, comentários na mídia social e ir à lanchonete comprar guloseimas.

"Quando há uma jogada, o ritmo é rápido", disse George Pyne, da empresa de investimentos Bruin Sports Capital.

"Mas eu acho que, com o público mais jovem nas redes sociais, o ritmo do jogo provavelmente é mais importante que a duração da partida."


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