Folha de S. Paulo


Iniciativa privada bancou 17% dos estádios da Copa do Mundo

Os números oficiais do governo federal mostram que a iniciativa privada arcou apenas com 16,91% do custo dos estádios construídos e reformados para a Copa de 2014.

A versão final da matriz de responsabilidade do torneio aponta investimento majoritário do poder público nas 12 arenas que receberam partidas da competição.

Os números desmentem a tese defendida por Ricardo Teixeira, então presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), quando o Brasil foi escolhido para receber o Mundial, em 2007. O dirigente afirmava na época que a maioria do investimento em estádios seria feita pela iniciativa privada.

Relatório de comissão da Fifa em 2007, baseado em informações de dirigentes e autoridades brasileiras, dizia que "o modelo de construção e reforma dos estádios daria prioridade ao financiamento privado por meio de concessões de largo prazo e, só eventualmente, usaria as PPPs".

Ao todo, foram gastos R$ 8,3 bilhões em estádios. A maior parte desse investimento saiu dos cofres de prefeituras, governos estaduais e do Distrito Federal. Somando as 12 arenas, o poder público bancou

83,09% (R$ 6,9 bilhões) do total gasto em obras nos locais que receberam jogos do Mundial.

Para financiar a construção de estádios, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) criou uma linha de crédito especialmente para a realização da Copa do Mundo. Foram repassados R$ 3,8 bilhões para clubes, prefeituras e governos estaduais.

Desse montante, R$ 806 milhões foram empréstimos tomados por estádios privados: Itaquerão, Beira-Rio e Arena da Baixada. O restante foi repassado para o poder público, em dívidas assumidas por prefeituras e governos estaduais nas obras dos estádios da Copa.

Em 2007, quando o Brasil foi escolhido pela Fifa como sede da Copa do Mundo, governo federal e CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que apresentaram a candidatura do país para sediar o evento, diziam de que as arenas seriam construídas utilizando 100% de recursos da iniciativa privada.

"A Copa do Mundo será melhor quanto menos dinheiro público for investido. Essa equação é que norteia o projeto desde o início. Ao governo, em todos os seus níveis, caberá os gastos com obras que lhe dizem respeito. O investimento maior terá de vir da iniciativa privada", disse Ricardo Teixeira, em nota divulgada em maio de 2009.

CONTA MAIS CARA

A matriz de responsabilidade da Copa do Mundo de 2014 mostra um aumento real de 20% no custo dos estádios construídos e reformados para a Copa do Mundo, na comparação com a primeira versão do projeto, divulgada em janeiro de 2010.

"As novas arenas multiuso, que foram construídas ou reformadas para a Copa do Mundo, tiveram custos alinhados com a média mundial para esse tipo de construção e são parte do legado esportivo deixado pelo megaevento", informou o Ministério do Esporte, em nota à Folha.

"Boa parte desse aumento se deve ao estádio de Brasília. O primeiro valor anunciado não continha quanto ia custar o gramado, a cobertura. Acho que para não causar um impacto maior, sobre valor, parte do projeto estrutural foi acrescentado depois," afirma Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas.

Bancado 100% com verba pública, do governo do Distrito Federal, o Mané Garrincha, em Brasília, foi o estádio mais caro da Copa do Mundo de 2014. Custou R$ 1,4 bilhão, 44% a mais do que a previsão inicial, descontada a inflação no período.


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