Folha de S. Paulo


Hábil nas crises, Aldo Rebelo manteve a velha política com entidades esportivas

Político prestigiado, mas discreto, ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo encerra um ciclo de 12 anos do PCdoB à frente do Ministério do Esporte, por onde passaram Agnelo Queiroz (hoje no PT) e Orlando Silva.

Rebelo comandou com sucesso dois momentos de tensão para o governo federal.

O primeiro, em outubro de 2011, quando assumiu o ministério no lugar de Silva, em meio a denúncias de corrupção, principalmente no Segundo Tempo (programa de difusão da prática esportiva).

Os novos rumos dados ao programa livraram o Palácio do Planalto de um foco de falcatruas, quando o país ganhava projeção internacional por causa dos megaeventos.

Em março de 2012, o ministro pediu à Fifa novo interlocutor para a Copa, em resposta ao secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, que sugeriu "um chute no traseiro" para as obras avançarem.

O tempo passou, os dois se acertaram e o campo ficou livre para Dilma avançar nas relações com a poderosa Fifa.

Foi nesse ambiente de tensões, críticas e incertezas que o Brasil realizou "a Copa das Copas", na avaliação do governo, mas sem que Dilma tenha reconhecido publicamente o trabalho de Rebelo.

Miguel Schincariol - 8.dez.2014/AFP
Aldo Rebelo (PC do B), durante entrevista em São Paulo
Aldo Rebelo (PC do B), durante entrevista em São Paulo

Já na gestão do ministério, o PCdoB falhou. Manteve a velha política nas relações com as entidades esportivas, apesar da contrariedade da presidente, que queria jogo mais pesado com os cartolas.

Em vão. O esporte de alto rendimento foi mesmo o principal beneficiado com financiamentos públicos, em detrimento de projetos de massificação e alcance popular.

Na ação política, Rebelo manteve os principais assessores do ex-ministro Silva, evitando indisposições com o partido. Mas reforçou seu gabinete com um experiente executivo, Luiz Fernandes, que cuidou dos megaeventos.

Também criou a Secretaria do Futebol, ali colocando um jornalista do ramo, Toninho Nascimento, insistindo na intromissão do Estado nos negócios suspeitos da bola.

Porém, Rebelo não investiu no quadro funcional, deixando de suprir grave carência de servidores qualificados para programas como o Bolsa Atleta, que beneficia 7.000 competidores. A universidade também ficou distante do governo, que adiou o intercâmbio com esse rico campo da ciência e da cultura.

Sem dúvida, os megaeventos ocuparam totalmente a agenda. Talvez por isso, Aldo Rebelo não tenha implantado uma política de Estado para o setor, aprovada pela Conferência Nacional do Esporte, em suas três edições.

Agora, na Ciência e Tecnologia, ele se mantém na cota de confiança do governo, enquanto as relações do Estado com o esporte deverão crescer no campo do alto rendimento, inclusive financeiro.

JOSÉ CRUZ é colunista do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, e cobre política, economia e legislação do esporte


Endereço da página: