Folha de S. Paulo


Chefe do comitê de ética da Fifa pede demissão após decisão sobre Qatar

Walter Bieri/Efe
Michael J. García deixou a Fifa nesta quarta-feira (17) após a entidade não publicar seu relatório
Michael J. García deixou a Fifa nesta quarta-feira (17) após a entidade não publicar seu relatório

O advogado norte-americano Michael Garcia apresentou nesta quarta-feira (17) sua demissão do cargo de chefe de investigação do comitê de ética da Fifa.

A decisão foi tomada depois que o comitê de apelação da entidade rejeitou, nesta terça (16), o pedido de Garcia para publicar o relatório completo da investigação que conduziu sobre as escolhas da Rússia e do Qatar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente.

No documento, Garcia relata problemas no processo eleitoral. O comitê judiciário da Fifa, presidido pelo alemão Hans-Joachim Eckert, avaliou que o relatório era inconsistente e que não é preciso rever os processos de escolha das sedes, além de decidir que não era necessário a publicação na íntegra do relatório de Garcia, que contém mais de 350 páginas.

Em nota, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que ficou surpreso com a decisão de Garcia e informou que o comitê de ética continuará atuando da mesma forma. A entidade deve colocar um interino no cargo de chefe de investigação até decidir por um novo nome.

"Nos dois primeiros anos após minha nomeação, em julho de 2012, senti que o comitê fez avanços reais na aplicação da ética na Fifa. Nos últimos meses, isso mudou", escreveu Michael Garcia em documento divulgado pelo escritório de advogados para qual trabalha nos EUA.

Rússia e Qatar foram escolhidos como sedes dos Mundiais em dezembro de 2010. A suspeita de que principalmente o Qatar comprou votos para ganhar a concorrência contra Austrália, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão foi o tema da investigação de Garcia, que nesta quarta escreveu que "identificou questões sérias e abrangentes contra os processos de candidatura e escolha das sedes".

Garcia não pode divulgar o relatório sem o aval do comitê executivo da Fifa, que se reúne nesta quinta (18) e sexta (19), no Marrocos, na última reunião de 2014. A promessa de Joseph Blatter, presidente da entidade, é que será votado entre os 209 membros da Fifa se o documento deve ou não ser divulgado.

"Parece que agora, pelo menos num futuro próximo, a decisão de Eckert vai ficar como a palavra final sobre o processo de escolha das sedes das Copa de 2018/2022. Nenhum comitê de governança, investigador, ou painel de arbitragem independente pode mudar a cultura de uma organização. E a decisão de Eckert me fez perder a confiança na independência da câmara decisória", escreveu Garcia.

O TRABALHO

Garcia e Eckert assumiram em 2012 em meio a denúncias de corrupção em várias esferas da Fifa. Joseph Blatter, querendo diminuir as críticas da opinião pública criou os cargos e disse na época que ambos seriam independentes em suas funções - Garcia seria o investigador, e Eckert o responsável por julgar os casos.

Entre os suspeitos que acabaram afetados por investigações de Garcia esteve o brasileiro João Havelange, que presidiu a Fifa entre 1974 e 1998 e que acabou renunciando ao cargo de presidente de honra da entidade após o comitê de ética identificar que ele, Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e o ex-presidente da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), Nicolás Leoz, receberam propina da ISL - empresa de marketing parceira da Fifa nos anos 90.


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