Folha de S. Paulo


Seleção de canoagem opta por cidadezinha contra metrópoles

O canto dos pássaros é abafado apenas quando o som de algum avião chega ou parte do aeroporto de Confins e passa sobre Lagoa Santa.

Estar a cerca de 15 minutos do aeroporto foi um dos motivos que fizeram Jesús Morlán levar a seleção para a cidadezinha. Não o principal.

Após quase dois anos em São Paulo, o espanhol pediu para deixar a metrópole pois perdia muito tempo em deslocamentos (cinco horas, certa vez) entre a raia olímpica da USP ou a represa de Guarapiranga e suas moradias.

A Lagoa Rodrigo de Freitas, local das provas na Olimpíada, foi descartada porque o Rio tem "muita tentação para gente tão jovem".

Curitiba foi deixada de lado em razão do clima, muito diferente do Rio. Já a lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, não agradou por causa da poluição da água.

Jesús, então, "descobriu" Lagoa Santa, com ventos e clima semelhantes aos do Rio. "Aqui o estresse não existe. A ideia é treinar bem duro e ter descanso rápido", diz.

Uma lei municipal foi criada para garantir exclusividade ao time de Jesús. "Sem remadores, esqui ou stand up" e "mais de 6 km para treinar".

Além do quarteto que recebe Bolsa Pódio de R$ 15 mil mensais do governo federal, dois canoístas estão como convidados da equipe hoje. São eles o paulista James Macedo, 19, especialista no caiaque, para ajudar nos treinos de velocidade, e o espanhol David Cal, 32, maior medalhista olímpico da história de seu país (um ouro e quatro pratas), todas elas com Jesús.

O paulista Alex Vendrani, 27, fisioterapeuta e auxiliar de Jesús, completa a equipe, que ainda conta com um cozinheiro na casa.

"A gente morava no centro do furacão, era uma bagunça arretada o trânsito. Aqui tá de boa, tudo perto. Tem mais tempo de treinamento", diz Isaquias Queiroz, favorito a uma medalha na Rio-2016.

Bicampeão mundial nos 500 m (prova não olímpica) e bronze, em 2013, nos 1.000 m (está nos Jogos), o canoísta baiano quase foi ouro nesta prova no Mundial da Rússia, neste ano. Caiu a poucos metros da chegada, quando liderava.

O Brasil já tem duas vagas no masculino para a Olimpíada.

Erlon Silva e Ronilson Oliveira (dupla nos 1.000 m) e Nivalter Santos (nos 200 m) também têm chances de medalha nos Jogos Olímpicos de 2016, mas, antes, precisam confirmar suas vagas no Mundial de 2015, em agosto, em Milão.

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Erlon, Nivalter, Isaquias e Ronilson (esq. pra dir.) treinam em Lagoa Santa
Erlon, Nivalter, Isaquias e Ronilson (esq. pra dir.) treinam em Lagoa Santa

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