Folha de S. Paulo


Luta entre Ali e Foreman na África completa 40 anos nesta semana

O ex-campeão dos pesados Muhammad Ali tem aparecido no noticiário mais por conta do estado de saúde, abalado pelo mal de Parkinson.

As gerações mais novas conhecem George Foreman, adversário contra quem Ali recuperou o cinturão, mais como o "Homem do Grill" (emprestou seu nome a uma grelha elétrica) do que como ex-boxeador.

"Em muitos eventos, ao ser aplaudido, pensei que era por minhas lutas", lembra Foreman. "Mas não. Todos me parabenizavam era pelo grill."

Mas a "Rumble in the Jungle" ("Briga na Selva"), que completa 40 anos nesta quinta-feira (30), mantém sua posição, conquistada no imaginário popular, como maior luta de boxe de toda história.

Desde sua origem, tudo foi incomum em relação à "Rumble in the Jungle": a assinatura de Foreman formalizando o combate foi colhida em uma garagem em San Francisco, onde um então jovem Don King o encurralou. Com o argumento de que pagaria a inédita bolsa de US$ 5 milhões. No Zaire, o futuro Congo, país então controlado pelo ditador Mobutu.

Nas bolsas de apostas, o vencedor era o azarão em 3 por 1.

O motivo era claro. Há poucos anos, em 1971, sofrera sua primeira derrota para Joe Frazier. Na revanche, ele ganhou, mas somente por pontos.

Pois bem, para se tornar campeão, Foreman castigou impiedosamente o mesmo Frazier e precisou de meros dois assaltos tomar o seu título.

Porém, Ali era o favorito sentimental: ficara três anos sem lutar após ter a licença de boxeador cassada por se recusar a lutar na Guerra do Vietnã e perdeu no tapetão o título de campeão mundial.

A atração da "Briga na Selva" era tanto que o renomado escritor americano Norman Mailer viajou ao país para acompanhá-la.

Escreveu "A Luta", livro que retratou os fatos que aconteceram no Zaire, como multidões de nativos que seguiam o carismático Ali pelas ruas do país, gritando "Ali, Bomaye" ("Ali, mate-o").

O clima foi capturado também pelo documentário vencedor do Oscar "Quando Éramos Reis".

Foreman, hoje, diz que a história foi distorcida, e que nativos gritavam para ele as mesmas palavras de incentivo: "Foreman, Bomaye".

Foi em 30 de outubro de 74 que Ali, então com 32 anos, colocou a cabeça para funcionar ao enfrentar um campeão invicto.

Logo no assalto inicial, ele percebeu a força de Foreman, então com 25 anos, e decidiu que teria de adotar uma estratégia diferente.

A partir do segundo assalto, Ali abandonou o centro do ringue e passou a se acomodar nas cordas onde parecia ser um alvo fácil para os golpes de Foreman. Só parecia.

O rival se esquivava dos golpes ou os bloqueavas com braços e cotovelos. E Foreman ia queimando suas energias.

A luta foi seguindo assim, ao gosto de Ali, cujos olhos mostravam uma confiança que aumentava na mesma proporção em que diminuía o fôlego do imbatível do oponente.

Até que, no oitavo assalto, o campeão recebeu um direto, caiu e, exausto, não conseguiu se levantar a tempo.

"Se arrastem, e não duvidem mais de mim", dedo em riste, disse Ali após a luta.

Por anos Foreman sonhou com a luta. Ele se levantava, mas sempre era tarde demais e o juiz interrompia o duelo.

Foi tão forte o impacto da humilhante derrota, que Foreman usou o mesmo calção da luta no Zaire no combate com Michael Moorer, 20 anos depois, quando recuperou o título e se tornou o mais velho campeão pesado
aos 45.

Recebeu uma mensagem do antigo rival, que o congratulou: "Parabéns, você conseguiu".
Desde que batera Foreman, ele tomava suas dores quando alguém dizia que o bateria: "Eu o venci. Mas não quer dizer que qualquer fará o mesmo".


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