Folha de S. Paulo


Sob pressão, Fifa deve mexer em regra sobre donos de direitos dos jogadores

O comitê executivo da Fifa avançou nesta quinta-feira (25) a discussão para controlar a ação de investidores na compra de jogadores. Se chegar a um acordo, o comitê pode anunciar mudanças nas regras nesta sexta (26), em Zurique, onde está reunido.

A informação foi confirmada à Folha pelo presidente da Uefa, Michel Platini, e pelo presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero, após o primeiro dia de encontro.

Segundo as palavras de Platini, a ideia é "banir" de vez a participação desses investidores nos direitos econômicos dos atletas. Ou seja, somente clubes seriam donos dos jogadores, pondo fim à prática de "fatiá-los" com investidores.

Questionado pela reportagem sobre o alcance da mudança, o dirigente da Uefa foi claro: qualquer clube do futebol mundial. "A Fifa é o mundo inteiro", afirmou.

Já Del Nero adotou um tom mais leve: aposta na regulamentação da prática pela Fifa, mas não excluindo-a do futebol, pelo menos no curto prazo.

As medidas podem atingir, por exemplo, proprietários de direitos econômicos de jogadores que atuam no Brasil.

Vanderlei Almeida-06.dez.2013/AFP
O presidente da Uefa, Michel Platini
O presidente da Uefa, Michel Platini

AÇÃO DA UEFA

A Fifa começa a agir dois dias depois de reportagem do jornal britânico "The Guardian" revelar que a Uefa está disposta a proibir a ação de intermediários a partir da próxima temporada.

No entanto, segundo informou o jornal, haveria um período de transição para que todos os clubes europeus se adaptassem totalmente às mudanças. A reportagem menciona, entre outros grupos que atuam desta maneira, a brasileira Traffic Sports.

Defensor dessa regulamentação, Platini tem sido pressionado pelos clubes do Campeonato Inglês, que protestam contra os pagamentos fatiados a grupos de investimentos donos de passe de atletas.

Segundo a mídia britânica, o português Jorge Mendes, apontado como o agente mais poderoso na Europa, estaria usando empresas em paraíso fiscal para comprar jogadores de Espanha e Portugal, entres eles o argentino Di Maria, que trocou o Real Madrid pelo Manchester United nesta temporada, e o brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa, recém-transferido do Atlético de Madri para o Chelsea.

Além de Espanha e Portugal, países do leste europeu e da América do Sul são os que mais utilizam recursos desses grupos de investimento para negociar jogadores. O dinheiro colocado no passe dos atletas já estaria em torno de 1 bilhão de euros (R$ 3 bilhões).

Se depender de Platini e do Campeonato Inglês, nenhum clube do mundo poderá agir desta maneira num futuro próximo.

A questão é que dirigentes da Commebol, por exemplo, argumentam que a estrutura econômica de clubes sul-americano é muito inferior à dos ingleses, alguns deles, como Manchester City e Chelsea, com um único e bilionário dono. Ou seja, grupos de investimentos seriam fundamentais para poder manter jogadores no Brasil ou em qualquer outro país neste contexto, alegam os cartolas.

OS FUNDOS DE INVESTIMENTO

Traffic, DIS, Doyen, Energy Sport, LA Sports.

O futebol brasileiro foi inundado na última década por empresas e fundos de investimento que compram participações dos direitos econômicos dos jogadores. O mecanismo é, em tese, bastante simples. Se um time deseja um atleta, mas não tem dinheiro suficiente para contratá-lo, pede ajuda ao parceiro.

A contrapartida é que essa empresa ou fundo passa a ter o direito de ficar com o percentual de uma futura transferência do jogador.


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