Folha de S. Paulo


'Demência pugilística' matou Bellini, diz estudo

A causa da morte do capitão da seleção na conquista da Copa do Mundo de 1958, Bellini, foi a ETC (Encefalopatia Traumática Crônica), conhecida popularmente como "demência pugilística", e não o mal de Alzheimer.

"Descobrimos pelo exame neuropatológico. Fizemos diagnóstico de certeza", explicou a médica Lea Grinberg, professora da USP (Universidade de São Paulo) e da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos EUA.

A conclusão de que Bellini, que morreu em março deste ano, sofria de ETC consta de um estudo, coordenado por Lea e ainda não publicado, divulgado no Congresso Internacional de Neuropatologia, no Rio de Janeiro.

No caso de Bellini, a doença se manifestou com a gradual perda de memória. A informação foi revelada pelo jornal "O Globo".

Editoria de arte/Folhapress

Mas, segundo especialistas, como o médico Jorge Pagura, presidente do comitê médico da Federação Paulista de Futebol, a doença pode se manifestar de diferentes formas em cada uma das pessoas, como perda de atenção, apatia, alterações comportamentais e problemas relacionados ao tempo de reação.

Segundo Lea, não é possível saber há quando tempo Bellini sofria de ETC, mas ela acredita que "provavelmente há décadas" e que ela "se manifestou há 18 anos".

"Há o problema da batida na cabeça, mas o pior é a mexida de pescoço [que impulsiona a movimentação do cérebro]", esclarece a médica.

Pagura irá sugerir à CBF, que a partir do próximo ano será presidida por Marco Polo Del Nero, atual presidente da FPF, um estudo sobre o ETC em jogadores que já concluíram as suas carreiras.

"Vou sugerir um estudo com os campeões mundiais até para ter um quadro mais claro", informa Pagura.

"Temos que levar em consideração que as condições mudaram. O Bellini jogou com bola de couro, que absorvia água quando chovia e por isso atingia a cabeça do jogador com mais violência. Isso mudou", compara ele.

"Já que a CBF assegurou planos médicos para os campeões mundiais, o processo será facilitado", diz Pagura.

Pagura já apresentou uma série de sugestões aos clubes e à federação paulista para combater o problema das concussões cerebrais.

Uma é a elaboração de um guia ressaltando as recomendações da Fifa sobre medidas a serem tomadas e explicações sobre o problema.

Outra é dar ao árbitro, juntamente com o médico do clube, a decisão de retirar o atleta de campo, em caso de perda de consciência ou concussão durante uma partida.


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