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Gremista acusada de racismo pede desculpas e quer encontro com Aranha

Luciano Leon/Raw Image/Folhapress
Patrícia Moreira, 23, torcedora do Grêmio, chora ao se pronunciar para a imprensa, em Porto Alegre
Patrícia Moreira, 23, torcedora do Grêmio, chora ao se pronunciar para a imprensa, em Porto Alegre

"Quero muito pedir desculpas para o goleiro Aranha. Perdão de coração porque não sou racista. Aquela palavra macaco não foi racismo." Dita aos prantos, a frase é da auxiliar de odontologia Patrícia Moreira, 23, torcedora do Grêmio identificada como autora de xingamentos contra o goleiro Aranha.

"Foi no calor do jogo, o Grêmio estava perdendo, o Grêmio é minha paixão. Minha paixão mesmo. Eu vivia para ir ao jogo do Grêmio. Eu largava tudo", disse a torcedora, que nesta sexta-feira (5) fez um rápido pronunciamento à imprensa em Porto Alegre – durou um minuto.

"Peço desculpas para o Grêmio, para a nação tricolor. Não queria nunca prejudicar o Grêmio. Eu amo o Grêmio. [Peço] Desculpas para o Aranha. Perdão, perdão, perdão mesmo", afirmou Patrícia, que não respondeu a perguntas dos jornalistas (veja abaixo, no vídeo cedido pela ESPN Brasil).

Veja vídeo

Na quinta-feira (4), a auxiliar de odontologia prestou depoimento na Polícia Civil e já havia negado a intenção de ofender o goleiro.

No pronunciamento, feito num hotel da capital gaúcha, o advogado de Patrícia, Alexandre Rossato, falou após as declarações da cliente que "macaco", usado dentro de um jogo de futebol, não se configura em racismo. "O termo é só mais um termo utilizado dentro do futebol", disse.

Segundo Rossato, a intenção da torcedora é pedir perdão ao jogador do Santos. "Ela deseja muito esse encontro. O que ela mais quer, pessoalmente, é pedir desculpas para o Aranha. Estou à disposição do goleiro Aranha".

Por meio da assessoria de imprensa do Santos e amigos, porém, o goleiro disse que não vê motivo para fazer o encontro e que isso até poderia minimizar a repercussão e a gravidade do caso.

Rossato contou ainda que a jovem saiu das redes sociais e deixou a casa onde vivia, na zona norte de Porto Alegre. "Ela perdeu a vida."

"A Patrícia já foi julgada socialmente. Independentemente de inquérito policial ou não (...) O racismo infelizmente é um problema social e não podemos jogar esse problema social tão somente em cima dessa menina", disse Rossato.

O delegado responsável pelo inquérito, Herbert Ferreira, vai seguir com os depoimentos na próxima semana. "Já avançamos bastante, tem inclusive a possibilidade de dizer que conseguimos subsídio para identificar mais três ou quatro pessoas além da Patrícia", afirmou.

A Polícia Civil gaúcha estuda consultar um especialista em leitura labial para auxiliar na perícia das imagens gravadas no estádio.

O CASO

A repercussão sobre o caso de racismo contra Aranha começou após a divulgação de imagens cedidas pela ESPN Brasil, que transmitia a partida entre Grêmio e Santos.

No vídeo, Patrícia aparece chamando o jogador de "macaco" durante o jogo. Ela foi afastada de seu trabalho de auxiliar de saúde bucal, na Brigada Militar, na sexta-feira (29).

À polícia, Aranha relatou ao menos quatro pessoas envolvidas nos xingamentos. Com base em seu depoimento, o Ministério Público abrirá um processo por injúria racial contra os participantes.

Na quarta-feira (3), o Grêmio foi excluído da Copa do Brasil por causa dos xingamentos no estádio na partida contra o Santos.

CÂNTICOS

Cânticos da torcida Geral, do Grêmio, chamam os rivais colorados de macaco. De fato, a própria torcida do Inter faz menção ao apelido em um hino:

"Me chamam de macaco, mas não é pela minha cor...
É porque sou colorado e pelo inter tenho amor!
Ei você que é gremista agora preste atenção, tua torcida é racista e a minha é do povão.
E eu como sou do inter agora vou cantar e pular como um macaco com a guarda popular!
Posso ser macaco mais e daí?!
Nunca caí pra segunda e nunca paguei pra subir!"


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