Folha de S. Paulo


Vinda de clubes italianos inspirou a fundação do Palmeiras

Até agosto de 1914, o Brasil já havia sido visitado por clubes da África do Sul, da Argentina, da Escócia, da Inglaterra e do Uruguai. A Itália, no entanto, ainda não havia sido representada.

O país, cuja colônia representava mais de 30% da população em São Paulo, nem sequer tinha no futebol um clube que pudesse simbolizar seus imigrantes, como já ocorria na cidade com os alemães (Germânia), os ingleses (SPAC) e os portugueses (Lusitano).

Isso mudou com a visita de duas equipes, a Pro Vercelli e o Torino, em agosto daquele ano, o que estimulou a fundação do Palestra Itália, em 26 de agosto.

A vinda de dois italianos foi motivada por uma cisão no futebol paulista, que a partir de 1913 passou a ter duas ligas e dois torneios. A rivalidade entre essas entidades transcendia o campo de jogo. Ambas buscavam estimular o esporte da melhor maneira possível para se fortalecer.

Assim, a LPF (Liga Paulista de Futebol), criada em 1901 e responsável pelo primeiro torneio oficial no país, mobilizou-se para trazer o Torino, vice-campeão nacional em 1907.

A LPF financiou as passagens de ida e volta e acertou o pagamento de 10 mil liras pela realização de quatro jogos. O clube usaria o campo do Parque Antarctica, para treinar e jogar.

Ao saber da iniciativa rival, a Apea (Associação Paulista de Esportes Atléticos) se mobilizou e convidou a Pro Vercelli, então cinco vezes campeã nacional.

A preocupação dos dirigentes da Apea, no entanto, era agilizar a vinda da esquadra de Vercelli. A equipe embarcou em 15 de julho, em Gênova, no vapor Cordova. Já o Torino, deixou a Itália no dia 22, no Duca di Genova.

A Pro Vercelli desembarcou no Rio, em 1º de agosto. Viajou de trem para São Paulo, onde chegou às 9h do dia 2. A Apea não queria perder tempo e promoveu, no mesmo dia, o primeiro jogo de um time italiano fora da Europa.

Sem tempo para descanso, a Pro Vercelli perdeu para um combinado entre Paulistano e Wanderes por 1 a 0. Inicialmente julgou-se que o revés fora provocado pelo cansaço, mas a equipe também decepcionou nos jogos seguintes. Perdeu mais duas vezes e empatou outras duas.

A Pro Vercelli ainda se aventurou no Rio de Janeiro, onde obteve saldo melhor: uma vitória, dois empates e uma derrota.

O Torino desembarcou em Santos no dia 5 e chegou a São Paulo, no dia 6.

A estreia ocorreu apenas dia 9. Goleou o Internacional por 6 a 0, diante de 5.000 espectadores. Depois realizou mais cinco jogos (dois além do combinado) e venceu todos. Fez 26 gols e sofreu três.

Entre os rivais, enfrentou o Corinthians. Ganhou por 3 a 0 e por 2 a 1.

Durante a visita das duas equipes, a colônia italiana em São Paulo mostrou-se especialmente empolgada. Usou o jornal "Fanfulla", uma publicação vinculada aos italianos que moravam na cidade, para mobilizar a criação de um clube.

O primeiro incentivador foi o jornalista Vicente Ragognetti, um dos quatro responsáveis pela criação do Palestra Itália. Ele publicou uma carta com título "Pela formação de um quadro italiano de futebol em São Paulo", no qual clamava pela união de italianos e descendentes.

Cinco dias depois, mais de 30 pessoas reuniram-se para discutir a ideia. Estava formada a primeira diretoria. A criação do Palestra Itália foi oficialmente dia 26, quando foi assinada a ata de fundação.


Endereço da página: