Folha de S. Paulo


Auditoria confirma contratos suspeitos, mas CBV adota cautela

Representada pelo seu diretor de marketing, o ex-jogador Renan Dal Zotto, a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) apresentou na manhã desta quarta-feira os resultados da auditoria da empresa PriceWaterhouseCoopers (PWC) sobre os contratos colocados em xeque após denúncias feitas pela ESPN Brasil sobre a gestão do ex-presidente Ary Graça.

Renan confirmou a existência dos documentos e pagamentos a ex-dirigentes da entidade, apresentou os valores pagos, mas disse que prefere esperar os advogados se pronunciarem sobre aspectos como moralidade e legalidade, o que não tem prazo para acontecer.

O ex-jogador, medalhista de prata na Olimpíada de 1984, também se disse tranquilo em relação à continuidade dos atuais patrocinadores, como o Banco do Brasil, de onde provêm a maior parte dos recursos da CBV.

"Em agosto do ano passado, fui informado de que estariam acontecendo possíveis irregularidades na CBV. Gosto de usar na condicional para não pré-julgar ninguém. Nossos contratos com patrocinadores são perfeitos. Eles continuam conosco, pois estão acreditando que esse momento pode ser importante para mudar o cenário. Erros serão consertados. Esse é o nosso lema daqui para frente", afirmou Renan, reforçando que os advogados irão avaliar a conformidade dos valores em análise com os do mercado.

Em nota divulgada após a realização da entrevista coletiva sobre os resultados da auditoria, Ary Graça voltou a afirmar que todos contratos assinados em sua gestão são legais.

"O presidente da FIVB, Ary Graça, tomou conhecimento do resultado da auditoria realizada pela CBV e reitera a legalidade dos contratos firmados durante sua gestão. O dirigente também acredita que as questões ainda pendentes serão esclarecidas no âmbito administrativo da CBV", diz o texto.

Sete contratos foram analisados em um primeiro momento. Os trabalhos de revisão deveriam acontecer em cinco semanas, segundo informado pela entidade no dia 20 de março deste ano. No entanto, o pronunciamento da CBV aconteceu quase dois meses depois. Conforme as análises foram avançando, a PWC chegou a mais de 30 revisões de documentos, contratos e aditivos.

Uma das empresas questionadas é a S4G Gestão e Negócios, de Fábio Dias Azevedo, diretor geral da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), presidida por Ary Graça atualmente. Renan afirmou que a empresa recebeu R$ 2,9 milhões. O contrato, que teria duração de cinco anos, foi rescindido em 30 de julho de 2013.

"Houve um contrato. A empresa existe e prestou serviços à CBV em vários eventos. O problema é que havia um braço de assessoramento e planejamento, em torno do qual foi estabelecido o pagamento de 10 milhões de reais durante cinco anos. A Auditoria verificou a exstência do contrato e concluiu que foram pagos dois milhões por ano. A CBV desembolsou esse valor", disse Renan, lamentando que as cifras pudessem estar direcionadas à medidas para melhorar o vôlei brasileiro.

Outra empresa denunciada pela ESPN Brasil, a SMP Logística e Serviços, também tinha um contrato no valor total de R$ 10 milhões. De acordo com Renan, foram pagos R$ 2,6 milhões até outubro do ano passado. Atualmente, o contrato está suspenso. As denúncias levaram à renúncia do dono da empresa, Marcos Pina, ex-superintendente geral da CBV, que deu lugar a Neuri Barbieri.

Nesta quarta-feira, nova reportagem da mesma emissora afirma que a CBV contratou o Escritório de Advocacia Valmar Paes, do pai do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para prestar "assessoria jurídica". Os gastos teriam subido 635% depois de 2011, passando de R$ 562 mil para R$ 4,130 milhões em 2012. Renan disse desconhecer esses valores, mas prometeu apuração.

CONTRATO DE "TRANSPARÊNCIA" É ASSINADO

Como resposta à desconfiança em relação à sua gestão, a CBV assinou nesta quarta-feira um contrato com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) no valor de R$ 1,95 milhão, válido por um ano, e dividido em 12 parcelas, para estabelecer um novo modelo de gestão da modalidade. O documento que formalizou o acordo foi assinado por Neuri e pelo diretor técnico da FGV, Ricardo Simonsen.

"Quando Neuri me convidou para ajudar nesse processo, definimos com o presidente [da CBV, Walter Pitombo Laranjeiras] Toroca que tínhamos de iniciar uma busca por melhores práticas na gestão e governança para utilização de verbas públicas e privadas. Queremos conquistar maior credibilidade junto às instituições do mercado em que atuamos, já que estamos um pouco abalados pelos recentes acontecimentos. Chegamos à conclusão de que o melhor parceiro seria a FGV", explicou Marco Tulio Teixeira, empresário e diretor técnico da CBV.


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