Folha de S. Paulo


Empresa que levou Damião ao Santos diz que jogador não é negócio de risco

Depois de protagonizar a mais cara transferência interna do futebol brasileiro, do Inter-RS para o Santos neste ano, ao custo de R$ 42 milhões, o atacante Leandro Damião, 24, vem acumulando críticas pelo seu desempenho em campo. Fez só cinco gols em 14 jogos.

A Doyen Sports, que financiou o negócio, saiu em defesa do atleta nesta quinta-feira.

"Leandro Damião é um jogador insuspeito, da seleção brasileira. Estava sendo negociado por valores muito superiores para a Europa", disse o diretor da empresa, o português Nelio Lucas, nesta quinta-feira, no 1º Fórum Internacional de Gestão Esportiva, em São Paulo.

"O Santos achou que ele seria seu atacante de referência para os próximos anos. E temos a mesma opinião. O futuro vai provar que esta operação não era arriscada", opinou.

Jorge Araujo-11.abr.2014/Folhapress
O atacante Leandro Damião conversa com o técnico Oswaldo de Oliveira em treino do Santos
O atacante Leandro Damião conversa com o técnico Oswaldo de Oliveira em treino do Santos

Lucas contou que, se o Santos não quiser vender o jogador nos próximos três anos, a garantia de pagamento à Doyen é sua cota de TV no Campeonato Brasileiro.

"Jamais usamos como garantia um jogador, um plantel inteiro ou um centro de treinamento. É sempre um terceiro", afirmou.

O treinador santista Oswaldo de Oliveira manteve Damião como titular mesmo em má fase. Em detrimento até de Gabriel, que vivia sequência goleadora. Mas Lucas nega que isso seja uma exigência do acordo financeiro com o Santos.

"A Doyen entrega o capital para o clube adquirir o jogador que ele quiser. Se vai jogar, emprestar ou vender, não temos influência. Vimos vários contratos, mostrados pela Uefa e pela Fifa, em que uma empresa obriga o clube a colocar o jogador em campo. Não fazemos isso", garantiu.

"Não vou dizer que nosso departamento de prospecção e scouting [estatísticas] é o melhor do mundo, mas estará no topo", avaliou. "Na operação, damos nossa opinião, nosso aconselhamento. A decisão é do clube", completou.

Sem citar os envolvidos, ele contou que dois negócios desaconselhados pela Doyen foram efetuados na Europa e acabaram malsucedidos.

MILHÕES E MILHÕES

Nelio Lucas afirmou que atualmente a Doyen Sports é "o fundo número 1 em investimentos no esporte" depois de desembolsar 100 milhões de euros –mais de R$ 300 milhões. "Vamos colocar mais 200 milhões de euros [cerca de R$ 614 milhões] à disposição dos clubes", informou.

Fundada em abril de 2011, com origem em Malta, ela é o braço esportivo do Doyen Group, que espalha suas atuações em mercados diversos como metais, minérios, energia, construção civil, turismo e esporte, com escritórios na Turquia, na Inglaterra, nos Emirados Árabes e em São Paulo.

"Somos uma alternativa ao mercado bancário. Estamos aqui para ajudar clubes com menos recursos a competir. Isso é, cada vez mais, um negócio", disse Lucas ao apresentar os dois modelos de ajuda: empréstimos convencionais e "assistência financeira na aquisição de direitos federativos de jogadores".

Ele insistiu em tentar afastar suspeitas sobre irregularidades. "É tudo legal. Temos certificado antifraude financeira a cada seis meses. Usamos bancos de primeira linha. Não há paraíso fiscal", alegou. "Participei em algumas das maiores negociações do futebol. Temos muitas relações e muito conhecimento do mercado".

Na sua palestra, foi mencionada a existência de "acordo especial estratégico" com os portugueses Benfica e Porto, os espanhóis Atlético de Madri, Valencia, Sevilla, Getafe e Sporting Gijón, os holandeses Twente e PSV, a italiana Roma, o belga Anderlecht e o inglês Liverpool.

PRESENÇA NO BRASIL

A Doyen Sports só confirma participação em duas transferências concretizadas no país: as idas de Damião e do meia Lucas Lima do Inter para o Santos, neste ano.

"Em breve devem ser anunciadas outras", disse. "Não é segredo que queríamos entrar no mercado brasileiro. Demorou muito", afirmou o diretor da empresa.

Ele ressaltou que a Doyen respeita os pedidos de sigilo e não obriga que os clubes comuniquem as negociações à imprensa, mas assegurou que ela cobra a notificação para "entidades reguladoras", como federações, CBF e, se for o caso, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Em entrevista coletiva, ele criticou as condições do Brasil neste segmento. "Ninguém sabe quantos jogadores estão em posse de terceiros, e isso preocupa. Há atropelo constante da lei. Pouco a pouco, isso será regulamentado", atestou.

"Na Espanha, todos os nossos negócios estão registrados numa espécie de cartório", comparou.

Ele disse cada clube é cobrado pela Doyen sobre profissionalismo e responsabilidade com a gestão do dinheiro investido em aletas.

Guillaume Horcajuelo-22.jan.2014/Efe
O colombiano Falcao García, cuja transferência do Atlético de Madri ao Monaco, teve participação da Doyen
O colombiano Falcao García, cuja transferência do Atlético de Madri ao Monaco, teve atuação da Doyen

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