Folha de S. Paulo


Críticos a campo de golfe olímpico deixam cargos no Rio

Três funcionários da Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio críticos ao licenciamento e à obra do campo de golfe da Olimpíada de 2016 saíram de seus cargos após conflitos internos com o comando da pasta.

Todos estavam no comando da Coordenadoria de Conservação e Proteção Ambiental. A construção do campo de golfe gera polêmica desde 2012, por ter exigido a redução de um parque municipal.

Os últimos capítulos das divergências foram críticas ao manejo da flora e fauna na região e um relatório elaborado pelo Consemac (Conselho Municipal de Meio Ambiente), órgão com membros da prefeitura e ONGs.

O secretário Carlos Alberto Muniz demitiu no fim de janeiro a gerente de unidades de conservação, Sônia Peixoto. A chefe da coordenadoria, Isabela Lobato, e o gerente de proteção ambiental, Roberto Rocha, entregaram os cargos ao não serem autorizados a indicar o substituto.

Os três afirmam, em nota conjunta, que as considerações do grupo e do Consemac foram ignoradas no caso do campo de golfe.

A saída foi vista por ONGs do conselho como uma forma de reduzir as críticas ao projeto. Muniz negou relação entre as saídas e a obra.

A coordenadoria emitiu pareceres críticos ao campo de golfe durante o licenciamento, que antecede a obra. Uma das queixas era a ausência de estudo de impacto ambiental para o projeto.

Um dos relatórios produzidos pelo setor após o início da obra aponta impactos na fauna local, com espécies ameaçadas, e na vegetação de manguezal.

O Ministério Público aponta problemas semelhantes.

"Não vejo outra razão para a saída que não desmontar um foco que entrava em conflito com o alto escalão da secretaria", disse Abílio Tozini, membro do conselho.

Muniz afirma que a obra tem respeitado as regras do licenciamento, com recuperação de parte da mata nativa –a área estava degradada. Ele disse que a coordenadoria faz parte de "um segmento mais sensível" da pasta.

"Nunca pedi a um técnico mudar o parecer. Para o cumprimento do dever da secretaria, é bom ter quem seja mais vigilante. Mas a decisão da secretaria se dá no conjunto das posições, e não de um só órgão", disse o secretário.

Segundo o secretário, Peixoto foi demitida por divergência em relação à gestão dos parques municipais.

Apesar disso, Muniz diz que discordou da atuação de Peixoto como representante da pasta no Consemac. Ela era membro da Câmara Técnica do conselho que produziu relatório com críticas ao campo de golfe.

Segundo o documento, alguns buracos prejudicam o corredor ecológico às margens da lagoa de Marapendi.

"A posição do serviço público não foi encaminhada da forma correta. Mas isso foi reparado a seu tempo", disse Muniz.

O relatório não foi aprovado pelo conselho.

Para os três funcionários da secretaria, as recomendações da câmara devem ser levadas em consideração, "o que não estava ocorrendo no caso do campo de golfe".


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