Folha de S. Paulo


Brasileiros envelopam bobsled para competir em Sochi; veja fotos

O quarteto brasileiro do bobsled passou a tarde desta terça-feira envelopando o trenó que irá usar na Olimpíada de Inverno, em Sochi. Eles competem em 22 e 23 de fevereiro, enquanto a dupla feminina vai para a pista de gelo dias 18 e 19.

Comprados no ano passado da equipe de Mônaco, os trenós estavam vermelhos e com algumas marcas de desgaste nos primeiros treinos do Brasil na Rússia.

A nova "pintura" do trenó brasileiro vai ficar pronta amanhã e vai ser utilizado já na quinta-feira, segundo o piloto Edson Bindilatti.

"É um trabalho que requer muito cuidado e paciência. A pintura demoraria muito e, por motivos óbvios, não secaria a tempo. Por isso o trenó estava daquele jeito nos treinos, pois já estávamos adiantando o serviço", explicou o piloto paulista à Folha.

Quem comandou a "funilaria" dos trenós foi o atleta Odirlei Pessoni. Ex-declatleta, ele conheceu o bobsled em uma seletiva no ano passado e além de pedreiro em Franca, onde mora, é o mecânico dos trenós brasileiros em Sochi.

"Para nós não foi vergonha nenhuma, pois tem muito trenó bonito que não se qualificou para os Jogos Olímpicos. E sabíamos que íamos fazer um bom trabalho, pois além de um grande atleta temos um excelente mecânico, que é o Odirlei", afirma Bindilatti, que participou das Olimpíadas de Inverno de 2002 e 2006, também no bobsled.

SEGUNDA LINHA

A descida de bobsled dura menos de um minuto e os trenós alcançam até 150 km/h nos 1.500 m de pista. As provas na Olimpíada russa acontecem de 18 a 23 de fevereiro.

Considerada a F-1 do gelo, o bobsled atrai investimento de grandes montadoras. Os norte-americanos, por exemplo, têm à disposição modelos projetados durante os dois últimos anos pela alemã BMW.

Já o Brasil utiliza trenós modelo 2010/2011 comprados ano passado do time de Mônaco. "É de segunda linha, mas melhor que os nossos anteriores", afirmou o piloto brasileiro Edson Bindilatti, 34.

Integrante da equipe brasileira 27ª colocada em Salt Lake City-2002 e 25ª em Torino-2006, ele é o único que enxerga algo na descida e precisa decorar o trajeto para fazer as curvas.

Para ajudar os passageiros de Bindilatti, a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, com verba da Lei Piva, pagou US$ 22 mil (R$ 52 mil) em cada um dos três trenós usados (um deles, o da dupla masculina, não se classificou para Sochi). O repasse do COB para a entidade foi de R$ 1,5 milhão em 2013.

"O delas é um BMW e o nosso, um carro 1.0", comparou a atleta dos 100 m Sally Mayara, 26, que passou em uma seletiva no início de 2013 para fazer dupla com a piloto Fabiana Santos, 31.

"Antes só alugavam. Não dá para reclamar, nosso trenó tem só quatro anos de uso", diz Sally.

Quando a brasileira cita a construtora alemã que já teve time de F-1 não é uma metáfora. A BMW é uma das principais patrocinadoras do Comitê Olímpico dos Estados Unidos e desenvolveu seis trenós de fibra de carbono para as duplas do país que estarão nos Jogos deste ano.

Para a equipe da Itália, os trenós são projetados pela escuderia Ferrari. Já os suíços, contam com a Audi. Não há valor de venda destes modelos, mas comparativamente um trenó novo pode custar 110 mil euros (mais de R$ 260 mil).

"A Alemanha tem um laboratório próprio de pesquisas com direito a túnel de vento como na F-1 e mais de US$ 1 milhão de investimento em tecnologia por ano. Um trenó usado fica bem mais barato por causa do avanço em material, tecnologia e pesquisas", explica Paes, residente no Canadá desde 2002.

Há ainda as quatro lâminas do trenó -cada jogo custa cerca de R$ 40 mil, outro trunfo das equipes que podem investir no desenvolvimento dos equipamentos.

"No material humano a gente está bem. Estamos treinando há oito meses. A diferença está na máquina", diz Bindilatti. Os brasileiros não têm patrocinador nem recebem bolsas atualmente.

"Se tivesse uma Embraer da vida ajudando a fazer os trenós, a gente já podia sonhar com medalha em 2018", projeta o piloto, referindo-se à empresa aeronáutica.

Hoje, o quarteto (além de Bindilatti, Edson Martins, 24, Fábio Silva, 36, e Ordilei Pessoni, 30, pedreiro que também trabalha como mecânico do trenó) e a dupla Sally e Fabiana não têm como meta ganhar uma medalha nos Jogos.

Concluir quatro descidas e ficar entre as 20 melhores de 30 equipes será cumprir o objetivo para eles. Para elas, estar em uma Olimpíada de Inverno já é um feito inédito.


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