Folha de S. Paulo


Criticado por judeus, clube chileno mantém mapa na camisa que ignora Israel

A rivalidade entre palestinos e judeus foi importada pelo futebol chileno.

O Palestino, clube de pessoas com origem no Oriente Médio, insiste em usar uma camisa cujo número 1 tem o formato do mapa anterior à criação do Estado de Israel.

O uniforme foi usado pela primeira vez no sábado, na goleada por 4 a 0 sobre o Everton, na rodada de abertura do campeonato nacional. Apesar das reclamações da comunidade judaica do Chile, o time avisou que não mudará o traje.

AFP
Polêmica camisa do Palestino, com o número 1 em forma de mapa que exclui Israel
Polêmica camisa do Palestino, com o número 1 em forma de mapa que exclui Israel

"Depois da reunião do diretório, decidimos que vamos continuar jogando com a camiseta, já que não recebemos nenhum ofício da ANFP (Associação Nacional de Futebol Profissional) ou da Fifa", disse um dirigente do Palestino que pediu para não ser identificado. "Somos um clube esportivo e nos guiamos por estas duas instituições".

A comunidade judaica, uma das mais influentes do país com mais de 30 mil integrantes, rechaçou o novo uniforme e a considerou excludente.

"Exigimos que retirem os números", afirmou nesta quinta-feira o presidente da Comunidade Judaica no Chile, Gerardo Gorodischer, ao jornal 'El Mercurio'.

Além do nome, as cores da equipe, branco, verde e vermelho, fazem referência aos territórios palestinos. O principal patrocinador do time é o Bank Of Palestina, que estampa sua logomarca no uniforme.

Fundado em 1920, o Palestino conta com não mais do que 2 mil sócios. Sagrou-se campeão chileno em 1955 e 1978.

Representa a colônia palestina no Chile, que, com mais de 300 mil pessoas, é considerada a maior do mundo fora dos países árabes.

O polêmico uniforme deve ser novamente usado nesta sexta-feira, na segunda rodada do campeonato, no jogo contra a popular Universidad de Chile.

"O que vai acontecer com os torcedores judeus da Universidad? É uma falta de respeito do Palestino", opinou Gorodischer.

RECLAMAÇÃO FORMAL

A federação chilena confirmou ter recebido uma carta da comunidade judaica que manifesta seu incômodo e pede que fossem transmitidas ao Palestino, o que alega ter feito.

Mas a entidade explicou que, para punir o clube, é necessário que outro filiado o denuncie, o que não aconteceu.

"Poderíamos colocar uma sanção se fosse claramente uma falta flagrante, que em vez do mapa tivessem colocado 'Palestina Livre'. Porém o Palestino usou o mapa muitas vezes. Agora chamou a atenção o mapa porque foi usado como numeral", disse o porta-voz da ANFP, Hector Olave.

O Palestino contou que o mapa já havia aparecido nos seus uniformes em 2000 e 2003. "O clube existe desde 1920, ou seja, 28 anos antes da criação do Estado de Israel [de 1948]", afirmou um dirigente que pediu anonimato.

Os primeiros árabes chegaram ao Chile e meados do século 19, mas a principal onda migratória data do início dos de 1900, quando eles começaram a fugir da dominação turca. Na sua maioria, partiam de Belém, Beit Jala e Beit Sahur, e eram cristãos –católicos ou ortodoxos.

"É um símbolo da nossa história e da nossa cultura, uma figura romântica. Sempre tivemos mapa, inclusive sempre o usamos pendurado no pescoço", alegou o presidente da Federação de Palestinos no Chile, Mauricio Abughosh.


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