Folha de S. Paulo


Apenas 20ª há dez anos, seleção feminina de handebol dá salto até título inédito

Em dez anos, a seleção brasileira feminina de handebol deu um salto raramente visto e entrou para a história.

A mesma camisa verde e amarela que amargou uma 20ª posição no Mundial de 2003 obteve neste domingo o título de melhor do planeta.

Com uma vitória por 22 a 20 sobre a Sérvia, perante 19.467 espectadores em Belgrado, capital do país do time adversário, o Brasil conquistou um inédito e incontestável título mundial. Disputou nove partidas e venceu todas elas.

Para não deixar dúvidas a respeito de sua superioridade, enfileirou duas vitórias sobre a Dinamarca, tricampeã olímpica entre 1996 e 2004, na primeira fase e na semifinal.

Também passou por rivais como a Hungria, contra quem obteve seu triunfo mais difícil: 33 a 31, nas quartas de final, após duas prorrogações.

Teve a melhor jogadora da competição (Duda Amorim) e a melhor goleira (Bárbara).

E deu-se ao luxo de ver a melhor jogadora do mundo, a ponta Alexandra Nascimento, fora da seleção do torneio.

Se ficou fora da lista das estrelas da competição, coube a Alexandra marcar seis dos 22 gols que definiram o título no jogo deste domingo.

"É o dia mais feliz da minha vida", afirmou a goleira Mayssa. "Eu estou anestesiada", disse a ponta Fernanda, que, junto com as colegas de seleção brasileira, chega ao país nesta terça-feira de manhã.

O técnico Morten Soubak chegou a dar uma bronca nas comandadas quando viu a vantagem de 16 a 11 se esvair na metade do segundo tempo. O placar chegou a 16 a 15. "Fui ríspido. Mas as jogadoras estão de parabéns", disse à Folha.

O treinador dinamarquês, porém, abandonou a frieza nórdica com o apito final. Ajoelhou-se em quadra e levou as mãos ao céu. "Tinha muito para agradecer".

Graças a Soubak, o Brasil se tornou o primeiro país sul-americano a erguer um troféu de campeão mundial.

Além disso, foi apenas a segunda vez que uma seleção de fora da Europa conquistou o título –a Coreia do Sul sagrou-se campeã em 1995.

EUROPA, A REFERÊNCIA

O domínio no esporte é da Europa, e a seleção teve de zarpar rumo ao continente para amadurecer.

Além da contratar Soubak para dirigir a equipe, em 2009, a CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) firmou parceria com o Hÿpo No, tradicional clube austríaco, para servir de base nacional.

Das 16 jogadoras do elenco campeão mundial, seis defendem o Hÿpo, do qual Soubak também é o treinador.

O intercâmbio é considerado crucial na ascensão meteórica do Brasil. "A parceria ajudou muito porque o que faltava era competir com a melhores", disse o técnico.

De 15ª no Mundial de 2009, a seleção passou para 5ª dois anos depois. Nos Jogos Olímpicos de Londres, foi sexta.

"Estávamos há algum tempo tirando casquinha", resumiu Manoel Luiz de Oliveira, presidente da CBHb.

Com o título, cresce a pressão por resultado na Rio-16.

Como não tem patrocinadores privados, a entidade sobrevive com dinheiro público. Atualmente, recebe recursos do Ministério do Esporte, dos Correios e do Banco do Brasil, além da Lei Piva.

Para diminuir o abismo em relação à Europa, há planos de injetar R$ 3,6 milhões ano que vem nas ligas nacionais feminina e masculina.

Colaborou EDUARDO OHATA

Editoria de arte/Folhapress

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