Folha de S. Paulo


Brasil recruta estrangeiros para Olimpíada

Para corresponder à expectativa de obter resultados na Olimpíada-2012, o Reino Unido disparou a naturalizar estrangeiros, que ficaram conhecidos como "plastic brits". A tática foi polêmica e rendeu críticas, mas deu certo. Da delegação de 542 atletas que competiram em 2012, 61 se encaixavam no perfil.

Entre as 65 medalhas obtidas no evento, 24 vieram com os chamados "britânicos de plástico", como o fundista Mo Farah, um somaliano de nascimento que venceu os 5.000 m e os 10.000 m.

Em uma escala menor, o Brasil apostará no mesmo expediente para a Rio-2016.

Muitas confederações têm trabalhado para naturalizar ou recrutar atletas que sejam descendentes de brasileiros.

Quem busca os reforços são principalmente esportes com pouca tradição, como o polo aquático, a luta olímpica, a canoagem, a esgrima, o hóquei na grama e o rúgbi.

Ausente dos Jogos Olímpicos desde Los Angeles, em 1984, o polo aquático masculino lidera na quantidade de estrangeiros pretendidos.

São cinco: o croata Josip Vrlic, o sérvio Slobodan Soro, o cubano Ives Gonzalez e Felipe Perrone, um brasileiro que se naturalizou espanhol, ganhou fama na Europa e agora é cobiçado.

Outro que está na mira é Tony Azevedo. Filho de brasileiros, ele foi vice-campeão olímpico pelos EUA na Olimpíada de Pequim, em 2008.

Todos eles atuam no Brasil. Gonzalez defendeu por dez anos a seleção cubana. Em 2006, conheceu Luana, uma brasileira que cursava medicina em Havana. Hoje, Gonzalez joga pelo Pinheiros.

Soro e Vrlic fizeram boas carreiras nas seleções de seus países, duas das mais fortes do mundo, e são as maiores investidas da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). A intenção é que, com eles, o masculino chegue às quartas de final.

"Mas não queremos caras que caiam de paraquedas, joguem e vão embora. Será um legado", afirma Ricardo Cabral, supervisor da CBDA.

Fabio Braga/Folhapress
O cubano Ives Gonzalez, 32, quer disputar os Jogos Olímpicos - 2016 pelo Brasil
O cubano Ives Gonzalez, 32, quer disputar os Jogos Olímpicos - 2016 pelo Brasil

FUGITIVO

Se tem alguém que não deseja ir embora do Brasil é Marat Garipov. Nascido em Taraz, no Cazaquistão, ele interpelou o presidente da CBLA (Confederação Brasileira de Lutas Associadas), Pedro Gama Filho, durante um torneio. Queria virar brasileiro.

"Eu me pareço com os brasileiros, sempre gostei do país e posso ganhar de cubanos e americanos", diz Garipov.
O Brasil nunca obteve uma medalha olímpica nas lutas.

O processo para se naturalizar está em andamento há um ano. "Quero disputar os Jogos Sul-Americanos do Chile, no ano que vem", afirma.

Além dele, a CBLA planeja naturalizar o armênio Edward Soghomonyan, que também mora no Brasil.

"Mas não está sendo tão fácil. O Brasil é um país difícil para conseguir isso", explica Roberto Leitão, superintendente da CBLA.

Na mesma toada estão os esforços da confederação de esgrima para ter Ghislain Perrier, 26, nascido em Fortaleza, mas cidadão francês.

Já a Confederação Brasileira de Canoagem quer dar cidadania a uma portuguesa.

O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) afirmou que não se opõe às confederações que queiram naturalizar estrangeiro e que, para isso, sigam as regras de cada modalidade e a legislação de cada país.

PROCURA-SE

A CBRu (Confederação Brasileira de Rúgbi) inovou na maneira de achar reforços para disputar a competição em 2016. Em julho, a entidade pôs anúncios em sites internacionais especializados, ao estilo "procuram-se atletas".

Havia, porém, uma ressalva: os interessados precisavam ter passaporte brasileiro, para acelerar o processo.

Segundo Sami Arap, presidente da CBRu, em pouco tempo o anúncio vingou. Um atleta inglês filho de mãe brasileira e uma francesa radicada no Brasil foram aprovados e podem se juntar às seleções já no próximo mês.

Esse assédio aos estrangeiros causa ciúmes dos brasileiros. Mas, segundo os dirigentes ouvidos pela Folha, isso não vai frear as naturalizações. "Claro que alguns jogadores ficaram aborrecidos, mas a aceitação é boa, na medida do possível", afirma Cabral, dirigente da CBDA.

Colaborou MARCEL MERGUIZO, de São Paulo

Editoria de Arte/Folhapress

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