Folha de S. Paulo


Homossexual assumido, norte-americano volta ao futebol para quebrar preconceito

"Meu segredo se foi. Sou um homem livre". Foi com essa mensagem que Robbie Rogers se tornou em 15 de fevereiro deste ano o primeiro jogador de futebol em atividade com passagem por uma seleção de certa relevância a assumir publicamente a homossexualidade.

A revelação veio junto com o anúncio da aposentadoria. Então com 25 anos, o norte-americano, recém-saído do time inglês Leeds, acreditava que, ao sair do armário, não teria espaço no futebol.

Mas continua jogando. Contratado do Los Angeles Galaxy (equipe da principal liga dos EUA e que teve Beckham no elenco), o meia de 26 anos se tornou um símbolo gay no esporte.

Embora seja alvo de ofensas em campo e fora dele, Rogers está otimista. Acredita que possa voltar à seleção dos EUA e disputar uma Copa.

E crê que possa mudar a forma como o mundo do futebol vê os homossexuais.

*

Folha - O futebol te aceitou melhor do que você esperava?
Robbie Rogers - Com certeza. Antes de assumir minha condição, achava que as pessoas não me entenderiam. Tudo acabou sendo consideravelmente melhor. É lógico que alguns sempre fazem piada. Mas a maioria das pessoas está me apoiando.

Por que você decidiu voltar?
O futebol sempre esteve na minha vida e me ajudou desde criança. Não importava se eu era gay ou não. Também percebi que, se eu voltasse, poderia ajudar mudando a mentalidade do futebol. Eu poderia atingir os jovens com minha experiência.

Tinha medo das reações?
Sim. Não era medo da minha família ou da opinião pública, mas de como esse ambiente muito conservador do futebol me trataria.

Qual era o seu maior medo?
Eu não queria que me olhassem de uma forma muito diferente. Tinha medo de que me tratassem com crueldade.

Sofre preconceito da torcida e dentro de campo?
Às vezes, acontece, mas tenho que estar preparado. Isso não vem das pessoas mais próximas, vem de quem é mais distante.

Como você lida com isso?
Não respondo a quem me ofende, mas odeio quando isso acontece, fico bravo. Não posso fazer nada contra essas pessoas porque, se eu fizer, elas vencem.

O que é mais importante para você hoje: servir como exemplo ou as aspirações comuns de um jogador de futebol?
É uma questão difícil. Ao mesmo tempo que minha carreira é o esporte, sei que me tornei um símbolo gay e que posso influenciar o mundo do futebol. É duro conciliar essas duas coisas no cotidiano.

Você pensa na possibilidade de voltar à seleção norte-americana e até disputar uma Copa do Mundo?
Sim, ainda espero por isso. É um caminho difícil, mas possível. Tudo o que eu posso fazer é me manter em forma e trabalhar.

Como você lidava com a sexualidade na juventude?
Eu simplesmente evitava, não falava com ninguém, apenas jogava futebol e tentava não pensar a esse respeito. Eu usava o esporte para fingir que não era gay.

O futebol então servia como um "escudo" para você?
Sim. Meus amigos costumavam dizer para as pessoas que desconfiavam que eu era gay: ele joga futebol, é impossível que ele seja gay.

Quando você acha que um jogador gay será visto de forma natural pela sociedade?
Espero que, se mais jogadores se assumirem, a condição sexual deles deixará de ser considerada uma questão relevante. Mas ainda vai demorar alguns anos. Os jovens precisam de exemplos.

Acredita que um jogador assumidamente gay possa, algum dia, se tornar um ídolo ou mesmo ganhar o prêmio de melhor do mundo?
Sim. Quando mais jogadores passarem a revelar que são gays, isso vai se tornar mais e mais fácil.


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