Folha de S. Paulo


Apesar de verba pública, confederação não banca viagem de ginastas da seleção

A notícia, comunicada no final de julho, virou motivo de festa: aos 12 anos, Murilo Pontedura defenderia pela primeira vez a seleção.

O ginasta de Guarulhos representaria o país no Sul-Americano de Sogamoso, na Colômbia, no mês seguinte. O evento reuniu atletas pré-infantis (9 a 11 anos), infantis (12 a 14) e juvenis (15 a 18).

Mas a alegria deu lugar a um problema. A inscrição, a passagem, a hospedagem e a alimentação não seriam pagas pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).
O veto era às categorias pré-infantil e infantil.

A conta, então, foi assumida pelos clubes aos quais os atletas estão ligados ou pelos seus pais, via depósito à CBG.

A confederação deve receber R$ 3,3 milhões por meio da Lei Piva em 2013. Neste ano, também terá R$ 8 milhões da Caixa --até 2016, o banco vai injetar R$ 35 milhões na entidade.

Outras confederações, como a de vôlei e a de judô, afirmam bancar todos os gastos de seus atletas convocados.

"Se representa o Brasil, não há como não pagar", declara Antonio Carlos Gomes, dirigente da Confederação Brasileira de Atletismo.

A CBG diz que não pagou as despesas por ter outras prioridades e alegou que as federações estaduais haviam sido avisadas no início do ano.

Danilo Verpa/Folhapress
Murilo Pontedura, que pagou para competir, em treino em Guarulhos
Murilo Pontedura, que pagou para competir, em treino em Guarulhos

VAQUINHA

No caso do garoto Murilo, do Esporte Guarulhos, sobrou para os pais fazerem a "vaquinha". "Em um sábado, fizemos rifa, vendemos comida e refrigerante. Colegas do meu trabalho fizeram doações", diz o pai, Valmir.

Os R$ 5.500 arrecadados pagaram a viagem do ginasta e de um técnico.

Outras agremiações reclamaram. O Grêmio Náutico União, de Porto Alegre, desembolsou R$ 12 mil e enviou dois ginastas e um treinador.

Técnico do clube, Leonardo Finco também é coordenador da CBG, mas discorda do procedimento. "Quando se trata de representação nacional, a CBG deve custear tudo. Eu questionei a presidente [Maria Luciene Resende], mas ela acha que está certo."

Para o treinador, a situação é "um tiro no pé", por prejudicar a formação de ginastas para além das Olimpíadas do Rio, em 2016.

O Santa Maria, de São Caetano, gastou mais de R$ 3.000 com um atleta. Passagem e inscrição foram pagas pelo clube, e hotel e alimentação, por uma associação de pais.

A Caixa diz patrocinar as seleções "com pagamento da passagem, hospedagem, alimentação, uniformes e taxas de inscrição", mas que cabe à CBG estipular prioridades.

Editoria de Arte/Folhapress

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