Folha de S. Paulo


Rivalidade entre Hunt e Lauda na F-1 inspira filme e livro

A temporada de 1976 da F-1 teve de tudo um pouco: acidentes espetaculares, corridas em terras desconhecidas, um carro com seis rodas e um título conquistado apenas nas últimas voltas, após uma virada espetacular de James Hunt sobre Niki Lauda.

Essa rivalidade chega ao Brasil com o filme em cartaz Rush - No Limite da Emoção, de Ron Howard, e o livro Corrida para a Glória (ed. Benvirá), do especialista em F-1 Tom Rubython.

Hunt e Lauda tinham personalidades opostas, dentro e fora das pistas. E o oscarizado Howard (Uma Mente Brilhante) aproveita bem essas diferenças para criar uma atmosfera de tensão constante entre os pilotos, cortesia do roteirista Peter Morgan (de A Rainha, Frost/Nixon e Maldito Futebol Clube, entre outros filmes).

Editoria de Arte/Folhapress

Era possível definir o estilo de James Hunt por meio de uma única imagem, que ficou clássica: o piloto da McLaren sentado em cima de seu carro, com uma lata de cerveja na mão, um cigarro na outra e uma bela mulher ao lado (veja abaixo, à direita).

Interpretado pelo australiano Chris Hemsworth, o Thor do cinema, James Hunt representava uma era de romantismo no automobilismo.

Guiava mais por instinto que por estratégia. E sua preparação incluía doses generosas de bebida, cigarros e mulheres, muitas mulheres.

O inglês foi um dos últimos de uma linhagem de adoráveis irresponsáveis que entrou em extinção e encontra hoje seu similar mais próximo em Kimi Raikkonen.

Lauda, por sua vez, inaugurava uma outra era, uma espécie de fase pré-Michael Schumacher (o alemão heptacampeão da categoria).

O austríaco personificava o profissional exemplar. Entendia de carros e aprendeu a cuidar do corpo para melhorar seu desempenho. Para muitos, era só antipático.

Uma imagem também marcou sua carreira: o piloto saindo da Ferrari em chamas após uma batida espetacular no GP da Alemanha de 1976.

Reconstruída com esmero no filme, a prova de Nurburgring serve de ponto de partida para a trama, contada por Lauda (ótima atuação de Daniel Brühl). A partir dali, o espectador é levado a um longo flashback que mostra o primeiro duelo com Hunt.

Muito da disputa entre os dois (que só se enfrentaram pelo título, de fato, em 1976) não passa de ferramenta dramática de Hollywood, ainda que bem aplicada.

Boa parte da rivalidade entre os pilotos foi alimentada pelo próprio circo da F-1 naquele ano, com direito a brigas entre McLaren e Ferrari, que decidiram dois GPs no ano nos tribunais, com acusações de irregularidades.

Os excessos de Hunt no cinema também parecem estripulias de personagem da Disney comparado ao verdadeiro piloto que, além de muita bebida e cigarros, incluía outras drogas nas baladas.

Quem se acostumou a acompanhar a F-1 com a cartilha de Galvão Bueno também pode ficar chocado com algumas ações da época.

Lauda, por exemplo, comprou vaga em suas duas primeiras equipes (resumidas em uma no filme). Da mesma forma, não era raro que times definissem o primeiro piloto.

Fatos que, nas transmissões politicamente corretas, viraram escândalo.


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