Depois de "Apollo 13 - Do Desastre ao Triunfo" e "Frost/Nixon", Ron Howard (Oscar por "Uma Mente Brilhante) volta à atmosfera dos anos 70 com "Rush - No Limite da Emoção", outra história inspirada em fatos reais.
A trama foca na rivalidade entre James Hunt (Chris Hemsworth) e Niki Lauda (Daniel Brühl) na temporada de 1976, uma das mais empolgantes da F-1.
Nesta entrevista, o diretor fala sobre seu fascínio pela década, como ocorreu a escolha do elenco e o que os atores tiveram que fazer dentro do cockpit.
Folha - Você e Peter Morgan trabalharam juntos em "Frost/Nixon". Quando ele conversou com você sobre "Rush"?
Ron Howard - Foi logo no início do projeto e me interessei imediatamente. Estávamos tomando café da manhã em Los Angeles e ele me disse que estava trabalhando sobre isso. Eu disse: 'Esse é um universo fantástico. Não sou bem um entendido, mas tenho uma noção e acredito que ninguém tenha feito algo assim antes.' A combinação dos personagens e o que cinematograficamente é possível com os recursos atuais cria uma experiência visceral. Naquele momento outro diretor estava falando com Peter, mas ele começou a fazer outro projeto.
Como você espera que o público receba "Rush"?
Meu objetivo continua o mesmo: se você não sabe nada sobre o esporte, você será levado pelo interesse humano da história, o drama que eles passaram e como o mundo funcionava naquela época. Se você conhece o esporte, quero que você sinta, além das qualidades dramáticas, que o esporte foi respeitado e que aquela temporada foi representada da maneira mais autêntica possível.
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Você parece gostar da década de 70. Foi um período importante para a sua formação?
Era um período sexy em uma das mais sexies décadas, pós-revolução cultural dos anos 60 e pré-AIDS dos 80. Foi um período onde tinha muita coisa rolando. Eram repercussões dos anos 60, mas essas novas liberdades eram um jeito de se reinventar. A ampliação dos meios de comunicação foi mudando o que entendemos sobre as nossas celebridades, os nossos campeões e nós mesmos. Acredito que o filme é uma chance de mostrar isso, se não como centro da história, pelo menos de um jeito bem marcante no contexto.
Você não mostra tanto o que Lauda teve que passar para voltar à pista no campeonato de 1976.
Foram dias deprimentes. Rodamos essas cenas no hospital e as próteses e a maquiagem eram tão precisas que era horripilante olhar. Filmamos em um hospital real e hospitais são sempre assustadores. Fazer esse filme foi divertido na maior parte do tempo, menos nesses três dias, quando a equipe toda ficou um pouco triste.
Como aconteceu a escolha do elenco?
Peter [Morgan, roteirista] indicou Daniel [Brühl]. Eu conhecia seu trabalho de alguns filmes e já gostava dele. Mas quando o conheci e falamos sobre o personagem e o que poderíamos fazer com os dentes salientes de Niki para obter uma aproximação física, e Daniel estava disposto a tentar se transformar. Pensei que ele era uma ótima escolha. O mesmo aconteceu com Alexandra [Maria Lara, que interpreta Marlene, mulher de Niki]. Estes foram os atores que Peter, que também é produtor, indicou e foram ótimas escolhas.
E Hemsworth?
Chris ganhou o papel. Estávamos considerando alguns atores e ele nos enviou uma audição de seu trailer enquanto filmava "Os Vingadores". Chris é um surfista, e embora James não tenha sido, ele projetou uma espécie de estilo cool da Califórnia no personagem. Havia algo na maneira como Chris se portava e em sua linguagem corporal, apenas depois de assistir a uma entrevista de James Hunt, que foi emocionante.
A maioria das pessoas conhece Hemsworth como Thor. Você acha que seu desempenho como James Hunt pode levá-lo para o círculo dos atores dramáticos?
Ele ainda é muito novo e o único papel que tínhamos como referência era Thor. Ele foi uma espécie de descoberta de J.J. Abrams, em "Star Trek". Todo mundo se perguntou: quem era aquele cara na sequência de abertura atuando como o pai de Kirk? Quando recebi a audição de Chris, liguei para Kenneth Branagh e Kenneth disse: 'Ele é um cara brilhante, com uma verdadeira gana pelo estrelato, e ele tem uma ética de trabalho tremenda. Acho que o céu é o limite.' Anthony Hopkins estava em "360" [dirigido por Fernando Meirelles e escrito por Peter Morgan], então Peter se sentiu confortável para perguntar a Anthony, que respondeu: 'Quando estou nas cenas com ele, ele está vivo. Está presente.' Isso, combinado com o teste, só me fez ter certeza de que ele era a pessoa certa. E ele pediu para emagrecer para o papel de James Hunt, perdeu de 13 a 18 kg.
Chris e Daniel tiveram interesse em dirigir os carros?
Claro. Eles não iriam fazer nada perigoso, mas a única coisa que eles tinham que ser capazes de fazer era dirigir para os boxes e parar. Queria tomadas de "steadicam" muito próximas e eles teriam que levantar as viseiras e assim poderíamos ver que eram eles. Queria que eles fossem capazes de fazer o movimento inverso que era colocar a viseira para baixo e ir embora. Isso pode ser perigoso, porque tem um monte de gente ao redor. Logo eles têm que ter o total comando do carro. Então eles dirigiram os carros uma boa quantidade de vezes. Mas nunca em situações em que eles ou qualquer pessoa da equipe corresse algum risco.