Folha de S. Paulo


Por mais dinheiro, grupo cria oposição à Conmebol

Com o apoio de ex-jogadores como Maradona, Romário e Francescoli, um grupo de dirigentes sul-americanos declarou guerra à Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

O movimento foi deflagrado ontem, tendo Andres Sanchez como articulador e o auditório da sede social do Corinthians como palanque.

Danilo Verpa/Folhapress
Maradona gesticula enquanto Andres Sanchez concede entrevista em São Paulo
Maradona gesticula enquanto Andres Sanchez concede entrevista em São Paulo

As acusações do grupo contra a entidade que controla o futebol sul-americano foram muitas --e pesadas.

"Eu pensei que não poderia haver uma entidade mais corrupta do que a Fifa e a CBF. Mas existe, é a Conmebol", atacou Romário.

As críticas foram direcionadas ao presidente da Conmebol, o uruguaio Eugenio Figueredo, ao seu antecessor, paraguaio Nicolas Leoz, e a outros cartolas influentes no continente, como Julio Grondona, presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino), José Maria Marin, presidente da CBF, e Marco Polo Del Nero, vice da CBF.

"Precisamos desmascarar essa gente que tanto mal faz ao futebol", disse Maradona, ex-jogador e ex-técnico da seleção argentina.

A Folha procurou Fifa, Conmebol, CBF, AFA e Federação Paulista de Futebol para que pudessem responder às críticas que sofreram.

Grondona, chamado de "mafioso" por Maradona, disse por telefone que não iria polemizar com o ex-jogador, de quem foi chefe. As entidades não responderam até a conclusão desta edição.

MAIS DINHEIRO

No evento realizado ontem no Parque São Jorge, estavam presentes dirigentes de cerca de 20 clubes da América do Sul e presidentes dos sindicatos de jogadores de Brasil, Uruguai e Paraguai.

A maior queixa do grupo é o pouco dinheiro que a Conmebol repassa aos clubes.

"Hoje nós praticamente pagamos para disputar a Libertadores, as cotas de televisão do Campeonato Paulista são mais altas", afirmou Andres Sanchez, ex-presidente do Corinthians e articulador do encontro.

Na reunião, um grupo de dirigentes apresentou números que, segundo eles, provam que a Conmebol repassa menos dinheiro do que pode aos clubes filiados.

Argumentam que a entidade recusou propostas pelos direitos de transmissão da Libertadores e da Copa Sul-Americana que seriam melhores do que as atuais.

Essas ofertas foram realizadas pela Gol TV, do Uruguai, do empresário Paco Casal, que estava presente ao evento de ontem no Corinthians.

O ex-jogador uruguaio Enzo Francescoli, sócio de Casal na Gol TV, discursou contra os cartolas da Conmebol.

"Desde que parei de jogar me dedico ao negócio da TV. Fizemos propostas melhores, e a Conmebol nunca quis nos escutar", afirmou.

O encontro se deu sem a participação de representantes de clubes brasileiros ou argentinos.

Segundo a Folha apurou, dirigentes de times brasileiros não foram convidados. "Mas vamos falar com os outros times do Brasil, sim", disse Andres Sanchez.

Maradona foi agressivo ao falar sobre os ausentes. "Os clubes argentinos não estão aqui porque são uma vergonha, são uns cagões."

Apesar de todas as críticas à Conmebol, o grupo não cogita por ora boicotar os torneios organizados pela entidade. "Temos que ser cuidadosos", disse Juan Pedro Damiani, presidente do Peñarol.

O grupo descarta, por ora, concorrer às próximas eleições da Conmebol, que devem acontecer em 2015.

CRITICADOS NÃO COMENTAM AS DECLARAÇÕES

A Conmebol, por meio do departamento de imprensa, não se posicionou sobre as acusações. Informou que o porta-voz estava em viagem e qualquer comentário será feito por meio do site oficial da entidade.

"Eu não posso responder o que disse Maradona, de nenhuma maneira vou fazer isso", disse Julio Grondona à Folha, por telefone. "Cada pessoa tem a liberdade de falar o que quer", afirmou o dirigente argentino.

A assessoria da CBF avisou que José Maria Marin não responderia as críticas do deputado federal Romário e a Federação Paulista de Futebol, também por meio da assessoria, informou que seu presidente, Marco Polo Del Nero, estava em voo e não poderia responder as críticas.

Del Nero é o representante da Conmebol no Comitê-Executivo da Fifa.

Procurada, a diretoria da Fifa não se manifestou sobre ter sido chamada por Romário de corrupta.

OPOSICIONISTAS JÁ TRABALHARAM COM OS HOJE DESAFETOS

Hoje na oposição, dois dos principais personagens na reunião de ontem já serviram aos que criticaram. Andres Sanchez foi diretor de seleções da CBF de janeiro a novembro de 2012. Trabalhou por seis meses com José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.

Diego Maradona treinou a seleção da Argentina no Mundial de 2010. Julio Grondona, como presidente da AFA, era seu chefe.

Enzo Francescoli, opositor de Eugenio Figueredo na Conmebol, já fez negócios com ele no Uruguai.


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