Folha de S. Paulo


Presidente do Barcelona repassou R$ 2,8 milhões à mulher de Ricardo Teixeira

Acusada pelo Ministério Público de desviar dinheiro público de amistoso da seleção em Brasília em 2008, a Ailanto Marketing Ltda. pagou R$ 2,8 milhões a uma empresa da mulher de Ricardo Teixeira, ex-dirigente da CBF.

A Ailanto pertence ao presidente do Barcelona, Sandro Rossell, amigo de Teixeira.

Documentos obtidos pela Folha revelam que a empresa do dirigente catalão foi sócia da W Trade Brasil Importação e Exportação, que tem como controladora Ana Carolina Wigand Pessanha Rodrigues, mulher de Teixeira.

Albert Olivé - 27.ago.13/Efe
O presidente do Barcelona, Sandro Rossell, fala em entrevista
O presidente do Barcelona, Sandro Rossell, fala em entrevista

A parceria envolveu duas salas no Shopping Leblon, um dos mais badalados do Rio. Os imóveis são avaliados em mais de R$ 13 milhões.

Em janeiro de 2009, a W Trade se associou a Rossell (pessoa física), à Brasil 100% Marketing (que tem o catalão como sócio) e a André Laport Ribeiro na compra das salas.

Com apenas R$ 50 mil de capital social na época, a empresa da mulher de Teixeira ficou com 24% de cada imóvel.

Dois anos depois (e seis meses antes de Teixeira renunciar ao cargo de presidente da CBF) a Ailanto pagou R$ 2,8 milhões pela participação da W Trade nas salas --R$ 1,4 milhão por sala--, de acordo com documentos do 2º Ofício de Registro de Imóveis do Rio.

A W Trade está registrada em nome de Ana Carolina e de Leonardo Diogenes Wigand Rodrigues, seu irmão. A mulher de Teixeira é sócia majoritária, com 99% das cotas. A companhia tem sede numa modesta sala em Jacarepaguá, zona oeste do Rio.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a empresa fez apenas uma operação de exportação até hoje, que não ultrapassou R$ 1 milhão.

No ano passado, a Folha revelou o primeiro elo comercial entre Teixeira e a Ailanto. A empresa de Sandro Rossell foi dona da VSV Agropecuária Empreendimentos, que tinha como endereço uma fazenda do brasileiro, em Piraí, a 80 km do Rio.

Pelo arrendamento da fazenda, feito às vésperas do amistoso contra Portugal em Brasília, em 2008, Teixeira deveria receber R$ 600 mil.

A Ailanto, que recebeu R$ 9 milhões do governo do DF para organizar o jogo, é acusada pelo Ministério Público de superfaturar despesas e desviar dinheiro público.

NEGOCIAÇÃO

Segundo documentos do 2º Ofício de Registro de Imóveis do Rio, a W Trade, Rossell, André Laport Ribeiro e Brasil 100% Marketing compraram as salas em janeiro de 2009, por R$ 7,6 milhões.

Na compra, Ana não assinou os papéis --foi representada por Vanessa Precht, sócia minoritária de Rossell na Ailanto. A venda foi feita pela Cencom S. A., também representada por Vanessa.

Ana vive com Teixeira na Flórida, onde faz pós-graduação em marketing. No início, o curso garantiu a permanência do marido nos EUA. O visto dele era atrelado ao dela. Recentemente, ele obteve o green card. Neste mês, o casal voltou ao Brasil para Teixeira fazer tratamento médico.

OUTRO LADO

Advogados da W Trade informaram que a venda da parcela pertencente à empresa nas duas salas negociadas no centro comercial do Shopping Leblon para a Ailanto, de Sandro Rosselll, foi "um negócio feito de forma legal" e declarado "num cartório de conhecimento público".

Segundo eles, a empresa controlada por Ana Carolina Wigand Pessanha Rodrigues, mulher de Ricardo Teixeira, acabou ficando com R$ 1,9 milhão da operação após pagar R$ 188 mil de impostos e usar R$ 700 mil para quitar o financiamento que foi realizado para compra das salas.

De acordo com os advogados, a empresa aumentou o seu capital para R$ 413.560 em dezembro de 2009 --11 meses depois de comprar as salas no Leblon. Em janeiro de 2009, quando os imóveis foram adquiridos, a W Trade tinha capital social registrado de apenas R$ 50 mil.

A Folha enviou há uma semana perguntas para dois advogados da Ailanto --um baseado no Rio de Janeiro e outro em Brasília. Até a conclusão desta reportagem, nenhum deles havia respondido aos questionamentos.

Sócia da Ailanto, Vanessa Precht não foi localizada.

Editoria de arte/Folhapress

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