Folha de S. Paulo


Ao contrário dos títulos da década de 70, estrangeiros são maioria no Bayern

Na metade da década de 1960, o Bayern era o segundo time de Munique. Dez anos depois, o clube bávaro se tornara o maior time da Europa, graças ao tricampeonato da Copa dos Campeões conquistado entre os anos de 1974 a 1976.

Com a conquista da Copa dos Campeões deste sábado, 37 anos depois do tricampeonato e 12 anos depois do título de 2001, o Bayern voltou a ser soberano na Europa. Mas a retomada da hegemonia continental vem de uma forma diferente da fórmula do tricampeonato.

Aqueles elencos do Bayern eram compostos por praticamente somente jogadores alemães (o time bávaro nunca entrou em campo nas finais da década de 1970 com menos de nove alemães em seus quadros). Dentre os principais craques, havia o goleiro Sepp Maier, o zagueiro Beckenbauer e o atacante Gerd Müller.

Neste sábado, porém, somente cinco germânicos começaram a partida como titular. Ao fim da decisão, havia seis, pois Mario Gomez entrara no lugar de Mandzukic.

É verdade que, à época, só eram permitidos, no máximo, três estrangeiros por equipe.

BAYERN TRI

Em 1974, o Bayern foi campeão invicto, derrotando o Atlético de Madri na final em dois jogos. O primeiro foi 1 a 1. O regulamento previa que, em caso de empate, seria realizado uma nova partida. No segundo duelo, os bávaros golearam por 4 a 0.

No ano seguinte, a vítima foi o Leeds, da Inglaterra, derrotado por 2 a 0 na final, em Paris. O título só não foi invicto porque, nas quartas de final, o time bávaro perdeu por 1 a 0 para o Ararat, da Armênia.

Já em 1976, o rival batido foi o Saint Étienne, com um triunfo pelo placar mínimo. Antes disso, os alemães haviam eliminado o Real Madrid na semifinal e o Benfica nas quartas (com uma goleada por 5 a 1, em casa, após um empate sem gols em Portugal).

ANOS DOURADOS DA ALEMANHA

Concomitantemente à hegemonia do Bayern, a Alemanha também começou a dar as cartas no futebol europeu e mundial. O início da década de 1970 foi marcado pela conquista da Eurocopa de 1972, da Copa do Mundo de 1976 e ainda um vice campeonato na Eurocopa de 1976.

O que tinham esses times em comum? A mesma base, sobretudo na defesa. Tanto em 1972 e em 1974, o gol era defendido por Sepp Maier, a lateral esquerda era propriedade de Paul Breitner e o miolo de zaga formado por Beckenbauer, que pelo talento e capacidade de liderança era chamado de Kaiser (imperador), e Schawarsenbeck.

Além disso, as duas seleções contavam com Hoeness como um volante que sabia sair para o jogo, num retrato típico da versatilidade tática do jogador alemão, e com o artilheiro Gerd Müller.

Os seis jogadores estavam presentes tanto na final da Eurocopa contra a União Soviética, que terminou em 3 a 0 para os alemães, e na final da Copa do Mundo de 1974 diante da Holanda, vencida pelos germânicos por 2 a 1.

A base defensiva era tão sólida que, na Eurocopa de 1972, foram três gols sofridos em quatro jogos. Já na Copa do Mundo, os alemães sofreram quatro tentos, mas em sete duelos (Maier não foi vazado em quatro dessas partidas).

"O entrosamento de seis titulares do Bayern potencializava a técnica individual: as tabelas entre Beckenbauer e Müller eram notáveis, como a que resultou no primeiro gol contra os soviéticos. Um dos tantos méritos do técnico Schön foi manter a Alemanha coesa e entrosada desde 1972, usando a excelente base do Bayern", escreve o jornalista Mauro Beting, no livro "As Melhores Seleções Estrangeiras de Todos os Tempos".

Em 1976, quando a Alemanha foi vice-campeã da Eurocopa, o time titular da final não contava nem com Paul Breitner nem com Gerd Müller. Mesmo assim, Beckenbauer ainda foi eleito o melhor jogador do torneio.

BAYERN E ALEMANHA HOJE

Atualmente, o Bayern continua como um fornecedor de jogadores para a seleção alemã. Na derrota para a Itália na semifinal da Eurocopa de 2012, oito jogadores do clube bávaro entraram em campo.

Porém, ao contrário da década de 1970, o time alemão não tem mais as grandes estrelas da seleção. Somente um dos quatro grandes craques desta geração alemã jogam pelo Bayern: Thomas Müller. Os outros não estão na Baviera: Özil joga pelo Real Madrid, Marco Reus pelo Borussia e Mario Göetze também (mas vestirá a camisa do Bayern na próxima temporada).

As principais estrelas do Bayern tampouco são alemãs (exceto Müller): Ribéry é francês, Robben, holandês, Mandzukic, croata, e Javi Martínez, espanhol. As lideranças do elenco, contudo, continuam sendo germânicas: o volante Schweinteiger e o lateral Lahm.

TÍTULO APÓS FRACASSOS

Antes de consumar a conquista, o Bayern obtivera dois vice-campeonatos: um em 2010, quando perdeu por 2 a 0 para a Inter de Milão, e outro em 2012, quando viu o título escapar, em casa, nos pênaltis, diante do Chelsea.

Aquele time do Bayern tricampeão, antes de se tornar o soberano da Europa, havia sido derrotado pelo Ajax de Cruyff nas quartas de final da Copa dos Campeões em 1973. Os bávaros foram goleados por 4 a 0 em Amsterdã e de nada adiantou vencer por 2 a 1 em Munique.

O curioso era que o time holandês, que em 1973 consumou seu tricampeonato europeu, seria a base da seleção holandesa vice-campeã em 1974, que perderia a final para a própria Alemanha.


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