Folha de S. Paulo


Pan de São Paulo, 50, tem mais patrimônio vivo do que Rio-2007

Cinquenta anos depois, São Paulo usa mais os espaços esportivos que foram palco dos Jogos Pan-Americanos que realizou do que o Rio de Janeiro, sede em 2007.

Ginásios, estádios e piscinas usados na capital paulista continuam à disposição de atletas de alto rendimento, são aproveitados por categorias de base, recebem público privado --como Pinheiros e Paulistano-- ou são abertos à população.

A organização do Pan de 1963 se valeu de estruturas privadas e públicas já existentes para realizar o evento. A única construção, de fato, foi a Vila dos Atletas. Hoje, é o Crusp (Conjunto Residencial da USP), que abriga estudantes da universidade.

O Rio também construiu uma Vila, por R$ 189 milhões. Os apartamentos foram vendidos à população e hoje sofre com falhas estruturais.

A capital fluminense, ao contrário de São Paulo, investiu para fazer um Pan com pretensões olímpicas. O custo chegou a R$ 3,9 bilhões.

Segundo relatório do governo Federal publicado em outubro de 2008, os legados são as oito instalações permanentes construídas e as cinco reformadas no Rio.

Após seis anos, o Engenhão, que custou R$ 380 milhões e foi sede do atletismo no Pan, está fechado por problemas na cobertura. Receberá também as provas de atletismo nos Jogos de 2016.

A piscina do Parque Aquático Maria Lenk, de R$ 85 milhões, recebeu 27 competições entre 2008 e 2012 --para 2013, sete são programados. É gerido pelo Comitê Olímpico Brasileiro há cinco anos e recebe apenas os treinos do Time Brasil, grupo de atletas apoiado pelo COB.

O Parque Aquático Julio Delamare, reformado por cerca de R$ 10 milhões, deve ser demolido e virar estacionamento do Maracanã. O local era usado para treino, escolinhas para crianças e prática esportiva para adultos.

A Arena Olímpica do Rio, casa de basquete e ginástica no Pan, está nas mãos da iniciativa privada e pouco é usada para disputas esportivas. Ela custou R$ 129 milhões.

O Velódromo da Barra, que custou R$ 14 millhões, terá a pista desmontada e levada para Goiânia. Um novo será erguido, por R$ 80 milhões.

Prefeito do Rio à época do Pan, Cesar Maia critica as demolições. "São absurdos. O velódromo foi feito a imagem e semelhança do dos Jogos de Atenas, com a mesma empresa indicada pela confederação internacional como única capaz para fazer a pista", afirma o hoje vereador (DEM).

Procurado pela Folha, o COB diz que "os Jogos Rio- -2007 representaram a 'credencial' para o Brasil conquistar a confiança da comunidade esportiva internacional. Foram peça fundamental na conquista da sede dos Jogos Olímpicos Rio-2016".

Para o comitê, não é possível comparar as edições brasileiras do Pan-Americano.

Usados no Pan-63, o campo de beisebol do Bom Retiro, os complexos do Ibirapuera, do Pacaembu, o Baby Barioni e o autódromo de Interlagos são usados por atletas e abertos à população.

Hoje, o Rio sofre com a saída de atletas devido ao fechamento de praças esportivas.

São os casos dos ginastas Diego e Daniele Hypolito, do nadador Kaio Márcio e de Natália Falavigna (taekwondo).

"A diferença entre o Pan de São Paulo e o do Rio são os muitos equipamentos construídos, alguns em uso e outros, não. Mas conseguimos trazer a Olimpíada de 2016 porque tínhamos instalações, bem ou mal", afirma Fernando Telles, 75, quinto nos saltos ornamentais em 1963.

Atleta olímpico e engenheiro, Telles projetou as plataformas de salto do Julio Delamare. "[A demolição] É muito triste, pois é a melhor piscina de saltos do Rio", diz.
Paulo Carotini, o Polé, 67, foi ouro no polo aquático no Pan, disputado no Palmeiras.

"Hoje a piscina está lá ainda, como a do Pinheiros, onde treinávamos. Infelizmente, no Rio, foi feita muita coisa e muito está sendo derrubado", afirma o ex-atleta.

1963/Folhapress
Piscina do estádio do Pacaembu vazia, após abrigar as provas de natação dos Jogos Pan-Americanos de São Paulo
Piscina do estádio do Pacaembu vazia, após abrigar as provas de natação dos Jogos Pan-Americanos de São Paulo

VICE-VERSA

O Pan do Rio também teve virtudes. O Maracanãzinho, reformado para 2007 e casa do vôlei nos Jogos de 2016, e o Complexo de Deodoro, também sede da próxima Olimpíada, receberam verba do Ministérios do Esporte e da Defesa e são os exemplos bem-sucedidos.

Deodoro recebeu mais de 250 eventos desde 2007.

De outro lado, o de São Paulo não foi impecável. A organização foi finalizada às pressas, e o velódromo do Ibirapuera já não existe mais.

Ainda assim, 1963 deu lucro. Com a receita do evento, o COB adquiriu sua antiga sede, no centro do Rio.


Endereço da página:

Links no texto: