Folha de S. Paulo


Pan de 63 acabou em casamento e filho de americano com telefonista da Vila

"O atleta da equipe norte-americana de ciclismo Michael Hiltner, de 22 anos, que participou dos IV Jogos Pan-Americanos, em 10 dias conheceu a telefonista da Vila Olímpica, a jovem Neide Marchena, de 19 anos, namorou, noivou e agora aguarda a vinda de alguns papéis de seu país para poderem se casar no Consulado dos Estados Unidos em São Paulo."

5.mai.63/Folhapress
O atleta americano Michael Hiltner, 22, e a telefonista Neide Marchena, 19, durante o Pan-63
O atleta americano Michael Hiltner, 22, e a telefonista Neide Marchena, 19, durante o Pan-63

Sob a manchete "Amor no Pan deu casamento", a edição da Folha de 6 de maio de 1963 noticiava com estas palavras acima o fim do torneio e o início de um romance.

O medalhista de prata por equipes naquele Pan realmente se casou com a brasileira. E eles tiveram um filho, Erik, que faz 45 anos neste domingo.

Cinquenta anos depois, o casal está separado. Ambos moram nos EUA. O casamento durou sete anos.

Na época, Hiltner já havia participado da Olimpíada de 1960, em Roma, e estava prestes a competir em Tóquio-64.

Do Pan, ele lembra da "Vila muito bem organizada, repleta de comida e da incomum disputa de ciclismo no autódromo de Interlagos".

A paixão por Neide foi à primeira vista, enquanto pedalava com os companheiros de equipe pelas ruas da USP. "Nós acenamos para ela, e ela, para nós. Eu parei e fui falar com ela. Sou muito grato por ter conhecido ela", diz à Folha, 50 anos depois.

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Erik Victor McCrea (segundo da esquerda para a direita) e a mãe, Neide (primeira da direita para a esquerda) em foto da família
Erik Victor McCrea (segundo da esquerda para a direita) com a mãe, Neide (primeira da direita para a esquerda)

Ele falava italiano, espanhol e um pouco de francês. O suficiente para se entender com a telefonista e pedi-la em casamento uma semana depois. Os papéis demoraram meses para chegar ao Brasil.

Mudaram-se para a Califórnia. Voltaram ao Brasil em 1966, onde moraram por quatro anos. Ele trabalhou na Editora Abril, mas, entre "bons e maus anos", voltou para os EUA sem a mulher.
Nos anos 70, virou hippie e mudou seu nome para Victor Vincente of America.

"Eu descobri meu modo de vida. Nunca fui bom em monogamia. Sou sem restrições, desenfreado. Eu amo a vida, amo a Mãe Terra", diz.

Hiltner é inventor --criou, entre outros, equipamentos de ciclismo-- e foi pioneiro em travessias ciclísticas.

Reprodução
Victor Vincente of America em foto atual
Victor Vincente of America em foto atual

Ele entrou para o Hall da Fama da mountain bike, em 89, e para o Hall da Fama do ciclismo dos EUA, em 2001.

Neide, 69, está casada e mora em Las Vegas. Segundo o filho, ela não quis falar à Folha sobre o relacionamento que começou no Pan-63.

Hiltner, 72, casou-se mais duas vezes. E se divorciou em ambas.

"A história entre eles é muito legal. Tenho muita sorte em ter participação nela", afirma o professor Erik, filho do Pan de 1963.


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