Folha de S. Paulo


Corintianos presos na Bolívia contam com rede de colaboradores

Os 12 corintianos presos na Bolívia só não estão em situação pior porque contam com uma rede de ajuda, formada principalmente por bolivianos com alguma relação com o Brasil --ou vice-versa.

A dona de casa Sonia Roque, 62, sempre foi vizinha da penitenciária São Roque, onde estão detidos os torcedores. Até um mês atrás, jamais havia pisado na cadeia.

Foi quando recebeu um telefonema do filho Saul, 30, que mora em São Paulo há 15 anos, trabalha com confecção, é corintiano e tem um amigo integrante da organizada Gaviões da Fiel.

Martin Fernandez/Folhapress
Sonia Roque posa para foto ao lado da filha Daniela
Sonia Roque posa para foto ao lado da filha Daniela

"Mãe, um amigo precisa de ajuda", começou Saul. Ele explicou a situação dos 12 presos a menos de 50 metros de onde ela mora em Oruro.

Desde então, Sonia pega um ônibus todos os dias até uma pensão que fica em outro bairro da cidade. Pega as marmitas que são preparadas lá e as leva à penitenciária.

Além da comida, leva roupa limpa, que ela mesma lava em casa. "Faço isso porque me dá pena. Entro para conversar com eles duas vezes por semana. Eles choram, me fazem chorar também."

Quem paga a conta da comida, cerca de R$ 250 por semana, são os torcedores. O dinheiro é repassado por Tadeu de Andrade, o líder do grupo, durante as visitas.

Sonia, viúva, ganha 200 bolivianos por mês (R$ 60), uma pensão do governo.

Ajudam em casa as filhas Sonia, 42, e Daniela, 23.

Os 12 corintianos estão detidos desde a noite de 20 de fevereiro, acusados da morte do estudante Kevin Beltrán Espada, 14, num jogo entre San José e Corinthians.

O garoto foi atingido no olho por um sinalizador, disparado da torcida visitante.

O processo se arrasta desde então. "Eles são inocentes, estou convencida disso", sustenta Daniela, que voltou à Bolívia após quatro anos em São Paulo, onde também trabalhou com confecção.

Há mais gente que os ajuda. Janete Terrazas, 53, dentista, se comoveu quando viu as imagens dos torcedores presos em reportagens de TV.

"Morei no Brasil por 17 anos, estudei lá, tenho uma filha brasileira", diz. Regularmente, leva aos 12 presos café, biscoitos e "alguma comida que não se acha aqui".

Comida brasileira é a especialidade da baiana Shirley dos Santos, casada com boliviano, mãe de seis filhos, que leva feijão com arroz aos presos. "Quando saírem, farei churrasco para comemorar."


Endereço da página:

Links no texto: