Folha de S. Paulo


Por fim de 'jogadores bebês', Coritiba corta concentrações

Alex acorda ao lado de sua mulher, toma café da manhã e brinca com seus filhos. Às 11h, encontra seus companheiros de time almoça, ouve a palestra do treinador e parte para o Couto Pereira.

Desde o início do ano, é assim a rotina do meia, ex-Palmeiras, Cruzeiro e seleção brasileira, em dias de partidas em casa do Coritiba.

Mas dormir em casa na véspera dos jogos não é privilégio do camisa 10. Todos os jogadores da equipe paranaense gozam do mesmo direito.

O clube, após mais de três anos estudando o tema, decidiu copiar o modelo de concentração mais comum nos principais países da Europa.

Giuliano Gomes - 24.fev.2013/Folhapress
O meia Alex durante jogo do Coritiba no Estadual
O meia Alex durante jogo do Coritiba no Estadual; jogador é o principal reforço para a temporada

Os atletas só precisam se apresentar na véspera da partida e dormir sob vigilância da comissão técnica em viagens ou situações especiais.

Na maioria dos jogos em casa, basta se unir ao grupo horas antes da ida ao estádio.

"Fizemos 76 jogos em 2012. Se formos contabilizar, dá 150 dias passados em hotel. Não dá para os jogadores ficarem tanto tempo afastados de suas famílias. Isso acaba os deixando cansados e estressados no fim do ano", afirmou o superintendente de futebol do clube, Felipe Ximenes.

Segundo o dirigente, a abolição da concentração (ou flexibilização, como ele prefere dizer) deve criar jogadores mais responsáveis e cientes de suas responsabilidades.

"A gente precisa dar passos constantes rumo à profissionalização do futebol. Temos de parar de tratar jogadores como bebês. O que estamos fazendo é dar mais direitos e deveres a eles. Quanto mais o pai controla, mais seus filhos serão rebeldes."

O atleta que se apresentar no dia do jogo sem condições físicas ou psicológicas de ser escalado, por noite mal dormida ou uso de álcool, receberá punições disciplinares. Ximenes assegura que até agora nenhuma sanção foi aplicada e que a volta da concentração não será usada como punição, nem se todo o elenco se "comportar mal".

Com o novo regime de concentração, deixado de lado só no Atletiba, o clássico com o Atlético-PR, o Coritiba conquistou o primeiro turno do Paranaense e conquistou vaga para a final do Estadual.

Mas o efeito da liberdade maior aos atletas, segundo o técnico Marquinhos Santos, cria do clube e favorável à ideia desde o início, só será sentido durante o Brasileiro.

"Acredito que os atletas vão se sentir mais felizes, e isso será positivo a médio e longo prazo. Atleta mais feliz se sente mais solto, rende mais."

A ideia de abolir as concentrações defendida pelo Coritiba não é inédita no Brasil, mas nunca teve vida longa.

Nos anos 1980, o movimento Democracia Corintiana decidiu que os jogadores só se apresentariam horas antes da partida. O mesmo aconteceu no ano passado com o Vasco, como protesto dos atletas contra salários atrasados.

Um dos maiores opositores ao regime é o ex-atacante Ronaldo. Em 2009, quando defendia o Corinthians, o Fenômeno se disse farto de ir para as concentrações e citou o Barcelona, vencedor de tudo naquele ano, como exemplo de liberdade aos jogadores.

Um exemplo que o Coritiba está começando a seguir.


Endereço da página:

Links no texto: