Folha de S. Paulo


Família de Kevin diz que Corinthians é o culpado e critica embaixada

O Corinthians é responsável pela morte do jovem boliviano Kevin Espada, 14, e a atuação da chancelaria do Brasil no episódio tem sido "antiética".

Essa é a posição do tio de Kevin, Jorge Ustarez, que também é advogado da família do garoto. Ele recebeu a Folha, nesta segunda-feira, na Prefeitura de Oruro, onde trabalha.

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"À medida que o Corinthians financia os integrantes de sua organizada, que não são torcedores comuns que pagam ingresso para assistir aos jogos, o clube é responsável pelo que ocorreu", argumentou Jorge Ustarez.

O Corinthians nega que financie torcidas organizadas.

Jorge Abrego-23.fev.13/Efe
Parentes e amigos de Kevin Espada participam do seu enterro em Cochabamba, na Bolívia
Parentes e amigos de Kevin Espada participam do seu enterro em Cochabamba, na Bolívia

Segundo Ustarez, os 12 corintianos não estariam presos na Bolívia se tivessem comprovado residência ou trabalho fixo no Brasil.

"Vivemos outra realidade aqui na Bolívia. Não temos torcida financiada por clubes, que pode viajar por vários outros estados e países."

Ustarez, que estava no estádio quando o sobrinho foi atingido pelo sinalizador, contou que Kevin não viajou apenas para ver o San José.

"Ele queria ver em ação o maior clube do mundo [Corinthians]", disse. "Um pai deveria ter a segurança de mandar um filho para um jogo e vê-lo retornar."

Como advogado de defesa da família, Ustarez questiona a maneira como ocorre o envolvimento dos diplomatas brasileiros no caso.

"Acho antiético a tentativa de ingerência da chancelaria brasileira no caso", afirmou. "O ministro [conselheiro da embaixada brasileira em La Paz, Eduardo Saboia] não deveria ter ido falar com o juiz e tentar influenciá-lo."

O advogado aponta tratamento diferenciado para os torcedores presos em Oruro.

"Só em Santa Cruz de La Sierra e no departamento de Pando há cerca de 50 brasileiros presos. Por que a embaixada não assumiu a defesa legal deles como fez com os torcedores? Os outros são menos brasileiros?", disse.

Procurado, o Itamaraty reconheceu que o caso gerou "muita comoção", mas afirma que outros brasileiros presos no exterior recebem visitas periódicas de diplomatas.

Ustarez afirmou ainda que "nenhum dos torcedores presos na Bolívia demonstrou arrependimento." A reportagem procurou Eduardo Saboia em La Paz, mas ele não respondeu os contatos.

Colaborou a Sucursal de Brasília


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