Folha de S. Paulo


Fã de Felipão, 1ª treinadora de seleção do Brasil pena para montar time sub-17

Em 1997, a volante Emily era convocada pela primeira vez para a seleção brasileira. Mesmo ano em que Luiz Felipe Scolari estreava como treinador do Palmeiras.

Nesta terça-feira, aos 32, a paulistana vai trabalhar na mesma entidade que o ídolo que aprendeu a admirar como técnico na adolescência. Um feito.

Emily Lima é a primeira mulher a chegar ao cargo de treinadora de um time da CBF. Vai comandar a seleção feminina sub-17, a mesma na qual jogou 16 anos atrás.

Coincidentemente, em sua primeira convocação --a ser anunciada nesta quarta-feira--, a treinadora da equipe feminina do Juventus vai chamar meninas nascidas a partir de 1997 (ano marcante para ela).

Seus primeiros grandes desafios são o Sul-Americano e o Mundial do ano que vem.

"Eu me espelho, sempre me espelhei no Felipão. Desde nova, quando ele ganhou tudo, adoro o Felipão. Agora, vou conhecê-lo. Estou preparadíssima, empolgada. Quero começar logo", afirma Emily à Folha, antes de peneira para analisar meninas para seu time no clube da Mooca.

Peneiras, aliás, foram uma das formas que a treinadora encontrou para formar a lista de 24 jogadoras que começam a treinar em 18 de março na Granja Comary, em Teresópolis (RJ). Ela também recorreu a amigos e redes sociais para formar a seleção.

"Eu conheço muitos treinadores, ligo para eles e peço para montar dois times com jogadoras de 97 e 98 para eu ver. Estou avaliando assim. Está complicado", diz.

"O Facebook me ajudou muito. Busco equipe, gestor, técnico, eles indicam jogadoras e me mandam vídeos."

Após tal dificuldade, Emily espera formar uma "família" na seleção, algo similar ao Brasil de Felipão na conquista da Copa de 2002. Para isso, ela acredita que ser mulher é uma grande vantagem.

"Sou chata, pego no pé, a jogadora tem que se doar 100% em campo. Mas, fora, consigo ter o grupo comigo. Bato um papo, me preocupo com cada uma. Com uma treinadora a menina consegue falar coisas que para um homem não falaria. Tem essa abertura, de falar até que está com cólica, e eu entendo".

Outra ligação com Felipão, que além da seleção brasileira já dirigiu Portugal, é que, filha de português, Emily jogou pela equipe lusitana por quatro anos, durante as seis temporadas que atuou na Espanha --é naturalizada.

No Brasil, ela sofre com a falta de atletas e a ausência de torneios nacionais de base. Segundo a Fifa, em 2006, o Brasil tinha cerca de 9,9 mil jogadoras, sendo 2,1 mil com menos de 18 anos. Já os EUA tinham 1,6 milhão sendo 1,5 milhão abaixo dos 18.

As americanas são as atuais campeãs olímpicas e mundiais sub-20, além de vices da Copa do Mundo. E sua treinadora, Pia Sundhage, foi eleita pela Fifa a melhor de 2012.

Técnica há dois anos, Emily não teme o desafio. "Posso mais, até dirigir meninos, mais velhos. Quem sabe?".


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