Os agrotóxicos ainda são essenciais para a agricultura, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), órgão representante de produtores rurais.
"Não é nem questão de falta de vontade de deixar de utilizar", diz Reginaldo Minaré, consultor da CNA. "O agricultor não vai perder o sono se amanhã a ciência e a tecnologia permitirem que se produza com segurança e com competitividade sem o uso de agrotóxicos."
A organização agropecuária questiona a credibilidade do recente estudo da ONG Greenpeace que encontrou presença irregular de agrotóxicos em alimentos.
"A divulgação de dados não oficiais e sem a chancela da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] contribui para denegrir a imagem do modelo agrícola brasileiro e compromete a credibilidade do poder público", diz carta da CNA enviada à agência sanitária na quarta (8).
O estudo do Greenpeace –que analisou 113 kg de alimentos separados em 50 grupos– encontrou 18 amostras irregulares, a maior parte delas (15) com a presença de resíduos que não deveriam ser usados na cultura em questão.
Marina Lacôrte, representante da ONG, afirmou que as análises não tinham a finalidade de monitoramento como a Anvisa faz, mas, sim, de demonstrar a presença contínua dos resíduos em alimentos.
A Anvisa, no último relatório Para (Programa de Análise de Agrotóxicos em Alimentos), relativo aos anos de 2013 a 2015, analisou 12.051 amostras. Destas, 2.371 (cerca de 20%) foram consideradas insatisfatórias, a maior parte delas também por resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura.
Segundo Reginaldo Minaré, um dos motivos para resíduos não autorizados é a morosidade para o registro de agrotóxicos. "Muitos agricultores têm acesso restrito a produtos para culturas e alguns [usam] por indicação", diz.
O consultor da entidade agropecuária afirma também que não se faz no Brasil uso indiscriminado de agrotóxicos, pois o produto é caro, o que "desmotiva o agricultor a usar de forma exagerada". "Mas, como qualquer outro setor produtivo do mundo, algumas falhas podem ocorrer."
Segundo a CNA, as irregularidades que são encontradas não necessariamente se convertem em perigos para a saúde do consumidor. A associação diz também fazer capacitação de produtores para evitar erros.
"Quase nada se fala do uso nas cidades, em jardins, nas residências. Isso ocorre em grande escala e não tem a mesma crítica", diz Minaré.
A última versão do Para levanta a questão dos possíveis riscos associados à detecção de mais de um agrotóxico com o mesmo modo de ação. "Essa situação não é uma preocupação que nós temos", afirma Minaré. "Se isso não está no rótulo e na bula não tem como você fazer uma recomendação ou até mesmo ter isso como uma preocupação."
O Para da Anvisa afirma que, de forma geral, a maior parte dos alimentos monitorados apresentam nível de segurança aceitável quanto a riscos de intoxicação por resíduos de agrotóxicos.
Procurada, a Anvisa diz ainda não ter posicionamento sobre o ofício enviado pela CNA.