Folha de S. Paulo


Estudo detecta presença irregular de agrotóxicos em alimentos

Gabo Morales/Folhapress
Amostras de alimentos, entre eles o tomate, foram coletadas em São Paulo e Distrito Federal
Amostras de alimentos, entre eles o tomate, foram coletadas em São Paulo e Distrito Federal

Não é improvável que na mesa do brasileiro alguns alimentos estejam "temperados" com agrotóxico. O uso do produto –e eventuais resíduos que ficam no alimento– não é proibido, contudo, uma pesquisa realizada em São Paulo e no Distrito Federal mostrou irregularidades.

O estudo da ONG Greenpeace, feito em grandes centros de distribuição, analisou 50 amostras dos seguintes alimentos: arroz, feijão, café, banana –estes entre os produtos mais consumidos pelos brasileiros–, tomate, mamão, laranja, pimentão e couve.

As análises foram feitas no Laboratório de Resíduos de Pesticidas do Instituto Biológico, braço da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.

Entre as 50 amostras, 18 apresentavam irregularidades. Na maior parte delas (15), foram encontrados resíduos de agrotóxicos que não poderiam ser utilizados naquela cultura alimentar específica.

Karen Friedrich, pesquisadora da Fiocruz e da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), afirma que o uso de agrotóxicos em alimentos para os quais não foram liberados pode acarretar um consumo de resíduos acima do indicado –que ultrapassa a ingestão diária aceitável.

Esse limite, segundo Friedrich, é calculado a partir de estudos em laboratório e representa o consumo máximo diário –que não causaria prejuízos observáveis– de um determinado agrotóxico.

Outro ponto que preocupa a pesquisadora é o acúmulo de mais de um tipo agrotóxico em uma mesma amostra –que, contudo, não é irregular.

Segundo o Dossiê Abrasco sobre Agrotóxicos, lançado em 2015, não é comum a pesquisa sobre interações das substâncias (o efeito coquetel) e de uma possível potencialização de efeitos negativos à saúde, ao ambiente e à segurança alimentar.

"Num único prato de comida você pode ter uma mistura de agrotóxicos", afirma Friedrich. "O efeito dessa combinação não é investigado."

Também em 2015, o Instituto Nacional de Câncer, apoiou "ações de enfrentamento aos agrotóxicos". A instituição afirmou que o "modelo de cultivo com o intensivo uso de agrotóxicos gera grandes malefícios, como poluição ambiental e intoxicação de trabalhadores e da população em geral".

Dizia também que entre os efeitos da "exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer".

OPÇÕES

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, segundo a Abrasco. "A nossa forma de produzir alimento está muito distorcida. Estamos comendo veneno", diz Marina Lacôrte, especialista do Greenpeace em Agricultura e Alimentação. "A amostragem da nossa pesquisa é reduzida, não é um monitoramento como a Anvisa faz, mas os dados mostram que estamos comendo agrotóxicos demais."

A Anvisa é responsável pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para). O relatório mais recente é referente ao período de 2013 a 2015.

Segundo os especialistas, não se deve, contudo, deixar de comer frutas e legumes por conta de agrotóxicos, já que os benefícios são maiores do que os riscos.

Uma outra opção para escapar das substâncias é buscar alimentos orgânicos ou agroecológicos.

Segundo Friedrich, é possível achar esses alimentos com preço um pouco inferior em feiras agroecológicas. "A comercialização de agrotóxicos tem uma série de isenções de impostos. São mais baratos por isso também."

Há duas semanas, Raquel Dodge, procuradora-geral da República, enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal), um parecer em que pede o fim de incentivos fiscais a produtos considerados agrotóxicos.


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