Folha de S. Paulo


Estudo aponta dano cerebral em quase todos jogadores de futebol americano

Gary Hershorn/Reuters
Kaepernick, do San Francisco 49ers, arranca com a bola durante jogo da NFL
Kaepernick, do San Francisco 49ers, arranca com a bola durante jogo da NFL

Pesquisadores examinaram os cérebros de jogadores de futebol americano falecidos e descobriram que 99% deles apresentavam sinais de doença degenerativa, que se acredita ser causada pelos golpes repetidos na cabeça, segundo um estudo publicado nesta terça-feira (25).

Os pesquisadores encontraram evidências impressionantes de encefalopatia traumática crônica (ETC) em 110 dos 111 cérebros doados de jogadores da Liga Nacional de Futebol (NFL) americana, de acordo com o estudo publicado na revista "Journal of the American Medical Association".

A ETC causa sintomas como perda de memória, vertigem, depressão e demência. Os problemas podem surgir anos após o fim da carreira de um jogador.

Um estudo recente, publicado na revista "Acta Neuropathologica", mostrou também que jogadores profissionais de futebol têm maior risco de danos cerebrais.

Nos últimos anos, a NFL enfrentou críticas e processos ligados à questão das concussões e traumatismo craniano. Em 2015, a Liga chegou a um acordo de US$ 1 bilhão para resolver milhares de ações judiciais de antigos jogadores que sofriam de problemas neurológicos.

Além dos jogadores da NFL, os pesquisadores também examinaram os cérebros de pessoas que jogaram no colégio, na faculdade, semiprofissionalmente e na Canadian Football League.

Os autores do estudo, da Universidade de Boston, descobriram que 87% dos 202 jogadores examinados, cuja média de idade era de 66 anos, apresentavam sinais de ETC.

"Essas descobertas sugerem que a ETC pode estar relacionada à participação anterior no futebol e que um alto nível de jogo pode estar relacionado a uma carga substancial de doença", escreveram os autores do estudo.

A evidência mais aguda da condição degenerativa, que atualmente só pode ser diagnosticada após a morte, foi encontrada entre aqueles que jogaram nos níveis mais altos.

Embora a pesquisa –o maior estudo sobre ETC publicado até o momento– sugira que a doença pode estar relacionada à participação no futebol, os pesquisadores alertaram contra a extrapolação dos resultados para a população em geral.

Como os cérebros estudados foram em sua maioria doados por famílias preocupadas, eles não representam necessariamente todas as pessoas que praticaram o esporte.

Os riscos de lesões na cabeça no esporte nos Estados Unidos se tornaram uma grande preocupação conforme ex-jogadores revelaram os efeitos a longo prazo sobre sua saúde, incluindo comportamento errático e transtornos do humor.

A questão surgiu depois que Junior Seau –considerado um dos maiores defensores de todos os tempos– se suicidou em 2012, aos 43 anos. Um estudo de seu cérebro mostrou que ele sofria de ETC.


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