Folha de S. Paulo


Barba é questão de moda, gosto ou só um jeito de atrair mais parceiros?

Houve quem decretasse o fim da barba, mas ela continua por aí –nas passarelas e em caras comuns. Será que ela é mais do que uma moda?

A ciência sugere que os pelos faciais estão imbuídos de mensagens sociais e podem ter um papel importante na vida amorosa de um homem.

Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, decidiram investigar o papel da barba –se é que há algum– na atração sexual, na masculinidade e nos relacionamentos, sejam curtos ou duradouros.

A equipe juntou dados de 8.250 mulheres, que foram divididas em três grupos. As imagens mostravam os mesmos homens com mais ou menos barba.

As respostas das perguntas, que foram publicadas na revista científica "Journal of Evolutionary Biology", variavam dependendo do que as mulheres estavam buscando.

Em geral, elas disseram que os homens mais atraentes eram os que tinham uma barba mais cheia, seguida da barba mais curta. Os pelos muito longos e o rosto escanhoado, sem pelos, receberam as notas mais baixas.

Já na hora de escolher um parceiro de longo prazo, quanto mais pelos, melhor. Os autores do estudo sugerem que eles indicam "a habilidade de um homem de competir por recursos".

Barnaby Dixson, cientista que estuda comportamento humano e coautor do estudo, estuda preferências nos relacionamentos há anos. Ele diz que ambos os sexos veem os homens com barba como mais velhos e mais masculinos.

Outro estudo com 1.577 homens e mulheres do Brasil e da República Tcheca aponta ainda que os homens também preferem homens com barba.

Comparados aos heterossexuais, homens gays preferem homens com mais pelos. Brasileiros em geral preferiram barbas maiores do que os tchecos. O estudo foi publicado em março na revista científica "Evolution and Human Behavior".

Mas nem todo homem consegue deixar a barba crescer –e aí a procura por transplante de barba cresceu, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia de Restauração de Pelos. Em 2014, 13.956 homens ao redor do mundo buscaram o procedimento, contra 4.707 em 2012.

O preço do procedimento varia de acordo com a área a ser coberta, e pode custar de R$ 7.000 a R$ 20 mil.

A decisão de deixar a barba crescer ou de apará-la depende muito do contexto onde os homens vivem. Um estudo de 2016 mostrou que barbas são mais comuns em regiões populosas com salários mais baixos. Quando o dinheiro é escasso e há maior competição, os homens podem sentir necessidade de intensificar sua masculinidade.

Outro fator que influencia nessa decisão é a presença de barbudos por perto. "Quando a barba se torna muito comum, ela fica menos atraente do que quando é mais rara", diz Dixson. "Isso ajuda a explicar por que a moda da barba vai e volta."

Christopher Oldstone-Moore, autor do livro "Of Beards and Men: The Revealing History of Facial Hair" (Sobre barbas e homens: a história reveladora dos pelos faciais), prefere essa teoria do que o significado biológico para a barba. "Fico pensando se os efeitos positivos das barbas são uma questão de preferências culturais atuais por elas, e se pensamos que homens com barba são mais maduros, confiantes e confiáveis porque é o que tendemos a associar com barba hoje em dia", disse. "Toda vez que a masculinidade é redefinida, a moda de barbas e bigodes mudam para se adequar."


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