Folha de S. Paulo


Estado dos EUA distribui caixas-berço de papelão para evitar mortes de bebês

Charles Mostoller/The New York Times
Bless'n, de 3 meses, o primeiro a ganhar a caixa de papelão que faz a vezes de berço
Bless'n, de 3 meses, o primeiro a ganhar a caixa de papelão que faz a vezes de berço

Jernica Quiñones, mãe de cinco filhos, foi a primeira em Nova Jersey a receber gratuitamente uma "caixa de bebê" –espécie de berço portátil feito de papelão laminado.

Mas, primeiro, ela teve que fazer um curso on-line sobre as melhores práticas ligadas ao sono do bebê, o que especialistas dizem que pode reduzir os riscos da síndrome da morte súbita infantil.

"Basicamente você deve colocar o bebê em um colchão, e pronto", ela disse depois de assistir a uma série de vídeos de 20 minutos.

A mensagem pode não ser nova, mas especialistas do governo dizem que é crucial manter os bebês em segurança. Para reduzir a mortalidade infantil, os pais devem colocá-los em um colchão firme e deixá-los sem travesseiro, cobertor ou bichos de pelúcia.

Nova Jersey se tornou o primeiro Estado dos EUA a adotar um amplo programa para reduzir as mortes de bebês, distribuindo cerca de 105 mil "caixas de bebês" (esse é o número esperado de nascimentos no Estado neste ano).

Essas caixas, que vêm com um colchão na base, têm sido entregues durante décadas na Finlândia, país com uma das menores taxas de mortalidade infantil do mundo.

"Não é só sobre a caixa, é sobre educação", disse Kathie McCans, pediatra do Hospital Universitário Cooper e presidente do conselho estadual que discute mortalidade infantil e outros riscos da primeira infância.

"A verdade é que as pessoas gostam de coisas de graça", disse. "A caixa é um incentivo para a educação, e vem com fraldas, lenços umedecidos, roupas e outros itens."

Em 2014 (último ano com estatísticas disponíveis), 57 dos 61 casos de morte súbita infantil de Nova Jersey envolviam circunstâncias inseguras durante o sono.

Os riscos incluíam a presença de cobertor (que pode levar ao sufocamento), pais que dormem junto com seus bebês (aumentando o risco de eles rolarem por cima do pequeno) e situações de "armadilha", em que a criança fica presa entre almofadas ou outros objetos.

No ano passado, o Hospital Universitário Temple, na Filadélfia, começou seu próprio programa de "caixa de bebê". Camden, uma cidade com altos índices de crime, desemprego e pobreza. Ao saberem da iniciativa do hospital, McCans e seus colegas não tardaram a buscar mais informações.

Charles Mostoller/The New York Times
Jernica Quiñones, 33, residente do Estado de Nova Jersey, mãe de Bless'n e de outros quatro
Jernica Quiñones, 33, residente do Estado de Nova Jersey, mãe de Bless'n e de outros quatro

Na verdade, a Baby Box Co., de Los Angeles, estava por trás da iniciativa. A empresa já havia trabalhado com hospitais e diferentes governos em ao menos de 12 Estados dos EUA e também no Canadá e na Inglaterra.

Apesar de ser uma empresa com fins lucrativos, ela recebe apoio de fundações de modo que os custos aos governos são mínimos.

A Baby Box Co. iniciou suas atividades em 2013 e foi fundada por Jennifer Clary e uma amiga que estava grávida depois de lerem sobre o sucesso finlandês com as caixas. Elas decidiram inventar um programa de educação, chamado "Baby Box University", que concentra vídeos sobre segurança no sono, amamentação e o uso apropriado de cadeirinhas para carros, entre outros assuntos.

MORTE SÚBITA

O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) disse que não endossa nenhum dos produtos da "Baby Box", mas uma porta-voz da agência disse que os pais devem tomar as medidas necessárias para ajudar a reduzir os riscos de morte súbita.

Nos EUA, cerca de 3.700 crianças morreram subitamente e inesperadamente em 2015, segundo a agência. As mortes têm caído desde os anos 1990, quando a Academia Americana de Pediatria divulgou recomendações como a de colocar o bebê de costas no berço.

O Estado de Nova Jersey diz que todos podem se beneficiar do programa. As caixas são úteis como um complemento do berço e pode ser facilmente transportada para um hotel ou uma noite na casa dos avós.
Quiñones, 33, disse que já tinha tido um bercinho, mas o mantinha no andar de cima de sua casa. Antes de pegar sua caixa, que agora fica na sala, ela tinha que subir um lance de escada para olhar o bebê.

McCans disse que muitos dos novos pais deixavam o bebê dormindo no sofá durante o dia, já que a vida familiar fica em torno da sala e da cozinha. "Dez ou 15 anos atrás nós não reconhecíamos os sofás como perigosos", disse. "Mesmo se o bebê se virar apenas parcialmente, seu rosto pode ficar encoberto."

Colocar bebês em caixas de papelão pode assustar alguns por ser tão simplório, especialmente na era dos berços de milhares de reais, mas McCans acredita que as caixas podem agradar os millenials que valorizam o minimalismo.

"Há muita gente tentando simplificar a vida. Se os millenials (geração que chegou à idade adulta no início do século 21) enxergarem a caixa como algo cool, renovável e não tóxico e se ela chamar a atenção para que eles recebam informações corretas sobre os bebês, então não vejo problema. Estamos tentando atingir todo mundo."


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