Folha de S. Paulo


Anticoncepcional injetável masculino avança em testes

Nicola Sap De Mitri/Flickr
Opções contraceptivas para homens costumam ser camisinha, coito interrompido e vasectomia
Opções contraceptivas para homens costumam ser camisinha, coito interrompido e vasectomia

A versão masculina da pílula anticoncepcional ainda não é realidade, mas está avançando nessa direção. Uma injeção que combina dois hormônios para suprimir a produção de espermatozoides, de forma reversível, conseguiu uma animadora taxa de sucesso de 96% em um teste com 266 casais.

A iniciativa é uma tentativa de ampliar o rol de métodos disponíveis para os homens. Desde o lançamento da pílula feminina, as opções para elas se expandiram –há dispositivos intrauterinos (DIU), implantes subcutâneos, adesivos que são grudados na pele, anéis vaginais e também injeções.

Para os homens, porém, as opções para que eles controlem a sua fertilidade se resumem à camisinha, ao coito interrompido e à vasectomia.

Um estudo em 2012 testou, em roedores, um método não hormonal que tirava a habilidade de natação dos espermatozoides. A droga, porém, causou a diminuição de 15% a 50% do tamanho dos testículos nos bichos e não foi pra frente em novos testes.

Anticoncepcional masculino

Já o novo estudo, feito por cientistas de dez centros de pesquisa de oito países, liderados por Mario Festin, da OMS (Organização Mundial da Saúde), se inspirou na fórmula feminina de administração de hormônios para a contracepção.

Os resultados da pesquisa foram publicados na última semana na revista "Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism".

Já se sabia que, quando homens recebem doses extras de testosterona, o processo de produção dos espermatozoides é prejudicado e as taxas deles diminuem.

Mas há um porém: efeitos adversos podem acompanhar esse processo, como irritabilidade, aumento das mamas e maior chance de tumores na próstata. Para superar esses problemas, o trabalho usou doses menores de testosterona associadas a aplicações de progesterona.

Os pesquisadores buscaram homens saudáveis que estivessem em relacionamentos estáveis há pelo menos um ano com parceiras igualmente saudáveis. O casal também precisava não querer filhos por pelo menos um ano.

Para suprimir a espermatogênese, a cada oito semanas os participantes recebiam injeções de testosterona e progesterona. Amostras de sêmen eram colhidas em intervalos predeterminados.

Com as injeções, houve supressão quase completa da espermatogênese e a manutenção de baixas concentrações de espermatozoides. Em um primeiro momento, para evitar contaminação de resultados, os participantes deveriam usar outros métodos contraceptivos não hormonais.

A próxima etapa do estudo pedia aos participantes para confiarem só nas injeções.

O resultado foi uma eficácia contraceptiva alta. Dos 266 casais que participaram da segunda etapa, 111 completaram o estudo; quatro mulheres engravidaram.

O resultado, segundo os autores, é comparável aos métodos reversíveis disponíveis para homens e a anticoncepcionais orais femininos.

EFEITOS COLATERAIS

Duas comissões externas acompanhavam o processo e decidiram terminar o estudo antes do previsto por causa de efeitos adversos. As ocorrências, porém, não foram inesperadas, dizem os autores.

Os participantes relataram alterações emocionais (30%), acne (quase 50%) e distúrbios sexuais (42%), como aumento ou redução da libido.

Mesmo com esses efeitos, 82% dos homens que participaram do estudo disseram que usariam um método contraceptivo desse tipo.

Archimedes Nardozza, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, diz que o método hormonal para homens pode apresentar problemas, como crescimento da próstata, e ainda não é viável. "Eu acho que estamos muito bem com o que temos hoje."


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