Folha de S. Paulo


Epidemia de Aids chegou aos EUA antes do que se pensava, diz estudo

SPL
O HIV não tem o DNA comum a todos os seres vivos, e sim o mais prosaico RNA
O HIV não tem o DNA comum a todos os seres vivos, e sim o mais prosaico RNA

Uma nova técnica, apelidada de "britadeira de RNA", conseguiu identificar o material genético do vírus da Aids preservado em amostras de mais de 40 anos. As conclusões do estudo mostram que a epidemia começou antes do que se imaginava no Caribe e na América do Norte, e que a ideia de um "paciente zero", que iniciou a propagação na região, é um mito.

Com a técnica foi possível identificar oito genomas (conjunto do material genético) antigos do vírus –até agora, só um era conhecido. O vírus causador da doença, o HIV, é simples e letal. É pequeno tanto em tamanho como na quantidade de genes. Essa simplicidade esconde a capacidade de se modificar e adaptar, além do fato de ter por alvo no organismo humano as células de defesa.

De tão simples, o HIV não tem o DNA comum a todos os seres vivos, e sim o mais prosaico RNA. Amostras antigas de vítimas da Aids geralmente não preservam bem o material genético. A equipe de Michael Worobey, da Universidade do Arizona em Tucson (EUA), usou uma técnica de "força bruta" para reproduzir RNA original e degradado.

A Aids surgiu na África provavelmente na década de 1950. Foi passada ao ser humano pelo sangue de macacos, com o processamento da carne para consumo, contaminados com uma versão animal do vírus.

O RNA extraído mostra que o epicentro –núcleo inicial da doença– na América do Norte foi Nova York, em torno de 1971. Dali passou para a Califórnia (notadamente em San Francisco) em 1976, e para Geórgia em 1979.

Em 1981 a Aids foi reconhecida como doença, graças a estudos com homens gays na Califórnia. Já na África e no Caribe a doença afetava principalmente heterossexuais. O vírus causador da doença foi identificado em 1984.

O novo estudo refuta a ideia de que houve um "paciente zero", Gaëtan Dugas, que trouxe a doença aos EUA. Na verdade, Dugas foi citado em um estudo como o paciente "O" (letra O), que terminou sendo incorretamente transformado em "0" (número zero). A letra dizia respeito à palavra "outside", de "outside of California" (fora da Califórnia). Dugas era canadense, o que explica o termo.


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