Folha de S. Paulo


Casos caem e expectativa é que poucos turistas sejam infectados pela zika

Alvin Baez - 06.mar.2016/Reuters
Mosquitos _Aedes aegypti_, transmissor da dengue e de outras doenças
Mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue e de outras doenças

É provável que nem meia dúzia de turistas pegue zika no Rio durante a Olimpíada. O baixo risco nessa época, porém, não é um alvará para que as pessoas não tenham alguns cuidados, já que ainda se sabe muito pouco sobre essa virose.

A informação tranquilizadora vem de cálculos como os do epidemiologista da USP Eduardo Massad, e foi referendada por outros cientistas que investigam o tema. O surto pegou o país de surpresa no último ano e provocou um aumento de casos de microcefalia –razão pela qual o mundo está com um olho nos Jogos e outro na zika.

A estimativa de Massad diz que 3,2 turistas estrangeiros, para cada 100 mil, pegarão zika. Com o palpite de que eles serão 500 mil ao todo, chega-se ao número de 16 infectados no total. Considerando que só 20% exibem sintomas, provavelmente haverá apenas três ou quatro doentes.

Os motivos para tão baixo risco –menor que o de levar uma bala perdida– são, principalmente, o frio e o baixo número de mosquitos. Além de os aedes se reproduzirem mais lentamente no período mais frio e seco, o próprio desenvolvimento do vírus da zika no mosquito é mais lento no inverno, segundo Fernando Bozza, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

Historicamente, entre os meses de julho e outubro há uma abrupta queda no número de mosquitos voando por aí, o que acaba também provocando uma diminuição súbita nos casos de dengue –e, acredita-se, também de zika– a partir de agosto.

PROBLEMAS

Para Maurício Nogueira, virologista da Faculdade de Medicina de Rio Preto, porém, não dá pra bater o martelo quanto à baixa expectativa de casos. "O modelo matemático é excelente, mas tenho reservas. Se tudo estiver certo, a conta não fecha. Tivemos muito mais casos do que a dinâmica proposta explica."

Só no Rio, houve cerca de 30 mil casos de zika notificados em 2016, mas o número vem caindo de janeiro (quando 7,7 mil casos foram notificados) até agora (até a semana passada eram 139 casos em julho). No país, é possível que os casos já tenham superado a marca de 1 milhão.

O que pode piorar as coisas é a possível transmissão de zika pelo pernilongo comum –a hipótese vem ganhando força. Não se sabe se e em quanto o inseto poderia contribuir para o espalhamento da arbovirose. Outro problema levantado pelos especialistas é o potencial da transmissão sexual da zika. Se a transmissão pelos mosquitos é sazonal, o mesmo não acontece pelo contato sexual.

Zika e microcefalia

Como não se sabe quase nada sobre essa via de contágio, existe uma chance não desprezível de ela estar bastante subestimada nas contas. A depender da frequência da atividade sexual e do número de parceiros, pode sim haver uma miniexplosão de casos de zika –por isso a importância ainda maior do uso da camisinha.

Por outro lado, nem o Rio nem o Brasil têm exclusividade na "exportação" de zika para o mundo –mais de 50 países e territórios já registraram transmissão da doença. "Como a zika já se espalhou pelo mundo, a Olimpíada não deve ter impacto sobre o cenário da epidemia", diz Amilcar Tanuri, virologista da UFRJ.

Para prevenir outra forma de transmissão, por transfusão sanguínea, o Hemorio (centro de hematologia do RJ) adquiriu kits para eliminar a ameaça de infecção viral de até 7.000 bolsas de sangue.

'CHIKU'

A chikungunya, arbovirose que pode causar fortes e persistentes dores nas articulações, também tem dado as caras e, nos últimos tempos, tem tido participação numericamente equivalente ou até mais importante que a zika. Em junho foram 660 casos notificados, contra 510 de zika e 1.104 de dengue na cidade do Rio de Janeiro.

Mesmo assim, a epidemia das arboviroses parece ter mesmo estacionado. Diz o secretário municipal de Saúde Daniel Soranz: "Não fizemos absolutamente nada especial para a Olimpíada. O que a gente faz é para a cidade do Rio de Janeiro". Isso inclui, segundo ele, ampliação da atenção primária e mais visitas domiciliares.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti


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