Folha de S. Paulo


Depilação íntima nos EUA segue os passos do Brasil e vira norma

Ilustração Fabiane Langona/Editoria de Arte/Folhapress

A moda-exportação brasileira de depilação íntima, conhecida lá fora como "Brazilian wax", está oficialmente encravada na cultura americana, aponta um estudo.

E não se trata de um estudo qualquer: publicado na prestigiosa revista científica "Jama Dermatology", da Associação Médica Americana, é o retrato mais completo e extenso já feito sobre depilação das partes baixas.

A pesquisa confirma a tendência de aparar, raspar e depilar os pelos pubianos nos EUA, mas vai além. Mostra situações em que as mulheres mais recorrem à depilação, qual o perfil de quem mais adere à prática e até as áreas onde os pelos são menos quistos (veja infográfico).

E aponta que as mulheres estão se importando bastante com o que os outros vão pensar de suas vaginas.

"Tenho percebido, ao longo dos anos, que as mulheres estão muito preocupadas com a aparência de suas genitálias. É comum elas pedirem desculpas por não estarem depiladas e perguntarem se parecem 'normais'", afirmou à Folha Tami Rowen, ginecologista e obstetra da Universidade da Califórnia em San Francisco e autora principal do estudo.

"Também vejo muitas meninas que ainda não são sexualmente ativas removendo todos seus pelos e outras mulheres com complicações por causa dessa prática. Quis entender os motivos e saber quantas pessoas estão adotando o hábito", disse.

Muita gente, segundo os números da pesquisa. Das mais de 3.300 mulheres entrevistadas, em uma amostra representativa do país, 2.778 (84%) já apararam os pelos na vida. Destas, 1.710 (62%) já aderiram à depilação total.

A prática, porém, é mais comum entre mulheres mais jovens, brancas e com mais anos de escolaridade.

Segundo os autores, trata-se de uma tendência cultural bastante motivada pela representação do sexo na mídia. A moda, dizem eles, começou mesmo no Brasil, mas o número crescente de vídeos pornográficos, revistas e programas de TV que mostram os genitais pelados também ajuda a impulsionar a prática.

"É uma via de mão dupla. Essa tendência que começou por aqui, com os biquínis cada vez menores, influenciou os filmes, e os filmes depois divulgam a tendência. A imagem que acaba ficando é: quer fazer sexo, quer ser bem-sucedida na cama? Então depile-se", avalia Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP. "Depois vira uma coisa de grupo, que exerce uma pressãozinha, mesmo que passiva, como toda tendência de grupo. Não quero ser a única peluda quando todas as outras se depilam."

A preocupação com a aparência da vagina fica clara quando qualquer exposição parece ser motivo para se depilar, incluindo visitas a um profissional de saúde, de acordo com o estudo. Muitas também se depilam porque os parceiros assim preferem.

"A mulher quer mostrar que tem uma vagina bem cuidada, está preocupada com o que o outro vai pensar, até mesmo o médico", afirma César Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

"Mas quando a preocupação com o que o outro vai achar é grande demais, é preciso trazer à tona a percepção que ela tem dela mesma. Não pode deixar de namorar por pensar que não se cuidou. Esse é um bom limite."

No Brasil, não há nenhum estudo desse tamanho sobre o assunto. Uma pesquisa da Unicamp, com 364 alunas, mostrou que 93% se depilam e 61,8% acham que esse é um hábito necessário. No entanto, 80,1% acham que a depilação pode ser prejudicial à saúde genital dependendo da maneira como é feita. Os resultados foram publicados em 2013 na "Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia".

LIMPEZA

O principal motivo citado pelas mulheres, porém, é a higiene. Beleza e querer agradar o parceiro vêm depois.

O resultado chamou a atenção da autora do estudo. "Imaginava que as mulheres se depilavam para tipos específicos de atividade sexual. Fiquei surpresa quando elas citaram higiene, quando não há base real para isso", diz.

Fernandes toca no mesmo ponto. "A mulher pode se sentir com um aspecto mais saudável, mas os pelos não prejudicam nada, desde que o asseio seja feito corretamente."

É preciso, porém, ter cuidado com os métodos. Fernandes diz que a raspagem com lâmina é a mais problemática por causar foliculite (infecção dos folículos pilosos). Já Leandra Metsavaht, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, lembra que salões de depilação com cera têm que usar instrumentos descartáveis.

PELO SIM, PELO NÃO


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