Folha de S. Paulo


Quimioterapia 'expressa' melhora tratamento contra câncer de ovário

O tratamento de câncer de ovário pode sofrer uma importe mudança em um futuro próximo, sugere um novo estudo. A ideia dos cientistas é usar a via intraperitoneal para reforçar a ação da quimioterapia.

O peritônio é a membrana que envolve os órgãos e vísceras do abdome –uma injeção intraperitonial significa uma entrega "expressa" da droga, sem ter de passar antes pela corrente sanguínea.

Pesquisadores do Canadá, Reino Unido e EUA viram que ao diversificar a abordagem e aplicar um quimioterápico dessa maneira, além da via intravenosa, pacientes tiveram maior grau de sucesso em um protocolo de tratamento de câncer de ovário em estágio avançado.

No caso, o tratamento final era cirúrgico e a quimioterapia precedia a operação. Nas pacientes que só se valeram do tratamento intravenoso –tratamento-padrão até então–, 42,2% tiveram um avanço da doença nove meses após a cirurgia.

Entre as que combinaram tanto a forma tradicional de aplicação do medicamento (intravenosa) com a intraperitonial, só 23,3% tiveram progressão da doença.

Os resultados foram apresentados na tarde desta quinta (3), no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco).

A explicação para o sucesso da combinação intravenosa-intraperitonial seria a possibilidade de uma quantidade maior da droga chegar ao tumor e aniquilá-lo, como se dois exércitos cercassem um acampamento inimigo.

"Mesmo sem o poder estatístico para avaliar a sobrevivência, nosso estudo informa como incorporar o tratamento quimioterápico intraperitonial por mulheres com câncer de ovário seguida por cirurgia", diz Helen Mackay, médica do Sunnybrook Odette Cancer Centre em Toronto, Canadá, e líder da pesquisa.

O índice de efeitos colaterais foi semelhante e não houve indício de maior toxicidade no grupo de terapia combinada.

Participaram da pesquisa 275 mulheres com idade média de 62 anos, que foram acompanhadas entre 2009 e 2015. O estudo é de fase 2, ou seja, ainda não é conclusivo ao ponto de ser capaz de recomendar a abordagem atual de tratamento, mas a ideia, segundo Mackay, é compor um cenário, junto com outros estudos semelhantes, de novas possibilidades de abordagem no tratamento de casos avançados de câncer.

Ainda é prudente que médicos e pacientes contenham qualquer empolgação. Um outro estudo com 1.560 pacientes que avaliou o efeito da quimioterapia intraperitonial (com outra droga, bevacizumab, vale frisar) não viu qualquer ganho em pacientes com cânceres de ovário, de peritônio ou de tuba uterina, lembra o oncologista clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Centro Paulista de Oncologia Jacques Tabacof. Todos os grupos sofreram com a alta toxicidade do tratamento.

"Alguns estudos mostram benefícios, mas, em outros, poucas pessoas conseguiram completar o tratamento. Como esse novo estudo atual foi feito com poucas pacientes, temos de ter cautela ao extrapolar", diz Tabacof. "É uma quimioterapia que dói, feita com um cateter que entra na barriga. Tem mulheres que não toleram. A distribuição da droga nem sempre é tão homogênea quanto gostaríamos. A vantagem seria a de dar um 'banho' nas células, valendo-se da proximidade com o tumor, mas é ainda um tema controverso."

No mundo, estima-se que anualmente surjam 239 mil casos de câncer de ovário. No país, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), há 6 mil casos anuais, e cerca de metade deles resulta em mortes.

A ausência de sintomas específicos dificulta o diagnóstico, que, quando chega, geralmente é tardio. Nos EUA, a forma epitelial do câncer de ovário é a líder em mortes entre os cânceres ginecológicos e o quinto que mais mata mulheres.


O jornalista GABRIEL ALVES viajou a convite da Pfizer


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