Folha de S. Paulo


Em parte da África, 3 em 4 pessoas com Aids não recebem tratamento

Na África, países menos afetados pela epidemia de HIV são deixados de lado e contribuem para o crescimento no número de casos da doença.

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou um relatório sobre a situação do combate à Aids nos países africanos. Segundo O MSF, a concentração de recursos na África subsaariana, onde a prevalência do HIV atinge 9% da população, tem deixado países da África Central e Ocidental desassistidos, contribuindo para o avanço do vírus nessas regiões.

A área que compreende a África Central e Ocidental abrange 25 países e é considerada de baixa prevalência, com 2,3% da população vivendo com o vírus da Aids. Esse número, no entanto, equivale a três vezes a prevalência mundial, que é de 0,8%, e alguns locais chegam a ter mais de 5% da população infectada, patamar que define a alta prevalência.

No Brasil, a prevalência do HIV está entre 0,4 e 0,7% da população, segundo levantamento do Ministério da Saúde feito em 2014.

A região da África Central e Ocidental é responsável por uma em cada cinco novas infecções por HIV no mundo, por uma em cada quatro das mortes relacionadas à Aids e por quase metade das crianças nascidas com o vírus. A cobertura do tratamento antirretroviral nessa região não chega a 24% da população necessitada, segundo o relatório "Fora do foco: como milhões de pessoas na África Central e Ocidental estão sendo deixadas de fora da resposta global ao HIV", divulgado no fim de abril.

"As agências internacionais tendem a concentrar seus esforços nos países mais afetados da África subsaariana, criando uma lacuna de tratamento nos outros países. As necessidades na África Central e Ocidental continuam enormes, com três em cada quatro doentes sem acesso aos medicamentos. Isso equivale a cinco das 15 milhões de novas pessoas pelo mundo que deveriam iniciar o tratamento até 2020", afirma Eric Goemaere, especialista em HIV do MSF.

"A negligência contínua em relação a essa região é um erro trágico e estratégico: deixar o vírus livre para fazer seu trabalho mortal na África Central e Ocidental ameaça o objetivo de conter o HIV no mundo", diz o médico.

Segundo o relatório, a instabilidade política e econômica de muitos países da região estão entre os complicadores, além da falta de apoio internacional.


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