Folha de S. Paulo


Pesquisa detecta 82% de infecções por zika em grávidas de Jundiaí

O resultado preliminar de uma pesquisa realizada no Hospital Universitário de Jundiaí indicou o vírus da zika em 82% das grávidas de um grupo que não apresentava qualquer sintoma da doença.

A proposta é acompanhar as mulheres ao longo do tempo para entender a evolução da doença e calcular os riscos de complicações, como a microcefalia no feto. Três grupos de mulheres serão estudados: grávidas sem sintomas, grávidas com sintomas de zika e aquelas que perderem o bebê.

O estudo começou há menos de 20 dias, e os resultados ainda devem ser vistos com cautela, alerta Saulo Duarte, professor titular de pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí, responsável pela pesquisa.

Ainda não foi feito um estudo que dimensione a presença do vírus da zika no Estado ou país. O resultado de Duarte, que conta no total com 110 pacientes, pode ser o indicador de um surto importante em Jundiaí e em cidades próximas. Das 110 mulheres, 49 fizeram exames e 40 tiveram resultado positivo.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

As análises foram realizadas em parceria com a USP e, dado o alto índice de infecção, ainda devem ser repetidas. Os dados foram anunciados nesta sexta (18), em um simpósio sobre zika promovido pelo Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo.

O que limita a extrapolação do índice para a população geral é que a amostra é composta majoritariamente por mulheres em alto risco gestacional, (que sofrem com diabetes ou hipertensão, por exemplo). Não se sabe se o comportamento do vírus pode ser diferente nelas.

Os diagnósticos laboratoriais foram feitos com exames de RT-PCR, bastante sensíveis e que conseguem detectar a infecção aguda –alguns dias, no caso de sangue até mais de um mês, no caso de urina e saliva. A partir de alguns dias de infecção, a detecção também pode ser feita com o estudo da sorologia (produção de anticorpos), que ainda não foi testada pela pesquisa.

Todas as crianças, mesmo aquelas consideradas saudáveis, serão acompanhadas até os 3 anos de idade, quando o cérebro já tem um maior grau de maturidade.

MICROCEFALIA

Se confirmada a alta prevalência de infecções por zika em Jundiaí, a maior preocupação passa a ser o o aumento do número de casos de más-formações, principalmente neurológicas. Duarte conta que nos últimos dias observou três casos de recém-nascidos com perímetro cefálico de cerca de 31 cm, sugestivos para microcefalia. Os diagnósticos ainda devem passar por uma confirmação baseada em exames de imagem.

Oficialmente, ainda não há casos em Jundiaí. Procuradas, a Secretaria de Saúde de Jundiaí e a Secretaria Estadual da Saúde disseram que não comentariam o estudo porque ainda não tiveram acesso a ele.

Uma pesquisa divulgada nesta semana, com dados da Polinésia Francesa (que passou por uma epidemia de zika entre 2013 e 2014), mostrou que o risco de uma mãe infectada por zika ter um filho com microcefalia fica na casa de 1%.

No caso do Brasil, ainda não há uma estimativa confiável da taxa de ataque, isto é, a proporção de pessoas infectadas em relação àquelas suscetíveis. Em outros locais como na Micronésia e na Polinésia Francesa esse número chegou na casa dos 74% e 66% –relativamente próximos do 82%.

No entanto, Maurício Nogueira, virologista e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, que está conduzindo um estudo semelhante, avalia que ainda é muito incipiente tirar conclusões. Ele, que tem larga experiência com dengue, afirma que após 30 anos de epidemias sucessivas, o índice médio de prevalência fica na casa dos 50% na região.

"Na pior das hipóteses, a gente imaginava que o zika se igualasse a isso", diz. "É necessário um número grande de casos para fazer boas inferências." Também em São José do Rio Preto a pesquisa está em estágios iniciais.

O cuidado com a divulgação se justifica: "Hoje em dia, quando o bebê nasce, a primeira pergunta que a mãe faz é: 'Qual o tamanho na cabeça do meu filho?' Ela deve ter passado os últimos meses só pensando nisso", diz Duarte.

Os estudos de Duarte e de Nogueira têm desenhos experimentais similares, o que cria uma "competitividade colaborativa", explica o virologista. Na hora da conclusão, as amostras podem se somar para atingir um valor adequado para se realizar uma análise estatística, ou, se atingidos separadamente, um estudo pode servir de corroboração para o outro.

A iniciativa faz parte da Rede Zika, força-tarefa formada por vários grupos de pesquisadores de São Paulo para estudar e buscar soluções para o surto causado pelo vírus da zika.

Editoria de Arte/Folhapress
Clique na foto e veja o especial sobre o vírus da zika e microcefalia
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