Folha de S. Paulo


Alckmin diz que vai pedir a liberação da 'pílula do câncer' à Anvisa

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) deve solicitar à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorização para que pessoas com câncer utilizem a substância fosfoetanolamina, nos casos em que os pacientes não demonstrem melhora em seus tratamentos.

Segundo o governador, o pedido para a liberação da "pílula anticâncer" será feito em regime compassivo –que abre exceção até aprovação do governo federal– por uma questão humanitária, permitida por lei em casos excepcionais. "O paciente não pode esperar anos e anos por uma aprovação", afirmou.

"A experiência tem mostrado que ela [fosfoetanolamina] pode ajudar [no tratamento de câncer], o custo de produção é baixo, até agora não teve nenhum caso de contraindicação, então, o Estado de São Paulo quer auxiliar e vai levar o pedido à Anvisa", disse Alckmin.

Na tarde desta segunda-feira (23), o governador se reuniu com Gilberto Chierice, professor aposentado do Instituto de Química da USP São Carlos, e com pacientes que utilizaram a substância durante tratamentos para combater câncer. Ainda não há, contudo, estudos clínicos em humanos que demonstrem sobre como a substância se comporta no organismo.

Questionado se a liberação não seria um ato precipitado, Alckmin, que também é médico, disse ter tido acesso a relatos de sucesso. "Eu não sou especialista em oncologia, mas até o momento, todos os depoimentos de pacientes que usaram a substância são positivos".

Especialistas, no entanto, têm sido unânimes ao afirmar que não existem evidências suficientes para o uso clínico da substância. Os dados pré-clinicos (testes em animais e em culturas de células) apontam melhoras para apenas alguns tipos de câncer.

Em humanos, não foi realizado nenhum estudo controlado, ou seja, não é possível saber se a melhora relatada por alguns pacientes acontece por acaso ou por causa do efeito placebo –por acreditar que está tomando algo que vai melhorar seu estado de saúde– ou por uma propriedade da droga.

Infográfico: Remédio anticâncer

Caso o pedido seja aprovado pela Anvisa, governador prometeu disponibilizar a rede de hospitais de São Paulo para acelerar o processo de pesquisas clínicas para o uso da substância. "Nós estamos disponibilizando toda a rede de hospitais de câncer do Estado de São Paulo para ajudar a completar a fase para a aprovação do medicamento."

Durante o anúncio, Alckmin relatou o caso de uma paciente com metástase óssea que fez o tratamento com a droga. "Ela sentia muita dor, tomava morfina, e já estava na cadeira de rodas. Ela tomou fosfoetanolamina, continuou paralelamente o tratamento e saiu da cadeira de rodas. Não precisa mais de morfina e continua o tratamento clássico", contou.

A pesquisa clínica com a fosfoetanolamina está, no entanto, longe de acontecer no cenário federal. Há uma semana, o ministro de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, afirmou que o governo deve obter os primeiros resultados de testes da substância em animais em até sete meses.

Alckmin afirmou que a fosfoetanolamina vem sendo testada há mais de 20 anos e que "boa parte dos testes foi feita no hospital do câncer, em Jaú". O hospital nega a informação e diz que, se ocorreu algum exame, foi de forma irregular.


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